Apesar de ter movimentado um orçamento superior a R$ 172 milhões desde 2021, a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Viária (SEMSPUV) de Canaã dos Carajás vive um paradoxo alarmante. Sob a gestão da prefeita Josemira Gadelha, a pasta, que teve uma dotação de R$ 40 milhões em 2024, enfrenta um cenário de sucateamento, falhas operacionais graves e contratos milionários cujos serviços não são entregues de forma adequada, expondo a vida de agentes e o patrimônio público a riscos constantes.
Relatos e documentos obtidos com exclusividade apontam para um colapso na infraestrutura e nos serviços essenciais da secretaria. A lista de problemas é extensa e revela uma aparente desconexão entre os altos investimentos e a realidade operacional:
- Falta de Estrutura Básica: A SEMSPUV opera atualmente sem serviço de guincho. Quando havia um disponível, o veículo passava até sete dias quebrado ou operava em horário restrito por falta de motoristas, mas o pagamento do contrato seguia sem descontos. Faltam também um pátio com capacidade adequada para os veículos apreendidos e até mesmo zeladora para a limpeza do prédio.
- Falhas de Comunicação e Segurança: Os rádios de comunicação frequentemente falham, impedindo o contato entre os agentes em campo e a base. Viaturas sem sirene e contratos com investigados
- As viaturas locadas pela empresa LOCAN – LOCAÇÃO DE MÁQUINAS E VEÍCULOS LTDA, apontada em investigações do Ministério Público e do GAECO, apresentam falhas graves. Sirenes que não funcionam, giroflex que desliga ao acionar o alarme e problemas mecânicos recorrentes. Isso compromete a resposta a ocorrências e o salvamento de vidas — tempo perdido em situações críticas pode ser fatal.

- Recursos por Conta Própria: Em uma situação que beira o absurdo, os próprios agentes de trânsito relatam ter que comprar papel do próprio bolso para imprimir comprovantes de autuação, garantindo o direito de recurso do cidadão, uma obrigação básica da administração pública.
Contratos Milionários e Ineficiência Comprovada
A má gestão se torna ainda mais evidente ao analisar os contratos de tecnologia. O sistema de talonário eletrônico, composto por 12 unidades ao custo de R$ 60 mil mensais, é considerado antiquado e apresenta falhas constantes.
Apesar do contrato de R$ 2.486.450,00 milhões com a empresa ATLANTA TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO LTDA, responsável pelo monitoramento de trânsito e sistema de câmeras, o que se vê é um serviço falho e ineficiente. Câmeras que não funcionam, rádios que não se conectam entre base e agentes, e sistemas de notificação de infrações (talonário eletrônico) ultrapassados, mesmo com custo mensal de R$ 60 mil mensal para 12 unidades. Ainda mais grave é a situação do pátio de veículos tem um contrato adicional de R$ 5 milhões foi firmado com outra empresa especificamente para o monitoramento do local, mas o serviço se mostra ineficaz.

Prova disso é que o pátio da SEMSPUV tem sido alvo de roubos frequentes. A secretaria mantém um contrato de mais de R$ 5 milhões com uma empresa para monitoramento do pátio — mas esse serviço também é ineficiente. Suspeita-se que ao menos 14 motocicletas já foram furtadas do local sem que o sistema de vigilância conseguisse registrar uma única imagem dos ladrões.
Confira o vídeo abaixo.
A inoperância do sistema forçou os próprios agentes a agirem. Em um episódio ocorrido na noite de 4 de junho de 2025, conforme detalhado no Boletim de Ocorrência Policial Nº 00156/2025.102345-5, agentes municipais flagraram dois indivíduos dentro do pátio. Um deles, identificado como Lucas Lima Machado, foi detido ao tentar pular o muro, enquanto o outro conseguiu fugir. O evento, que expôs a integridade física dos servidores, comprova a vulnerabilidade do patrimônio que deveria estar sob vigilância eletrônica paga com dinheiro público.
Sindicato Prepara Denúncia ao Ministério Público
Apesar da cascata de problemas e do fluxo contínuo de pagamentos integrais aos fornecedores, nenhuma solução efetiva foi apresentada pela gestão da SEMSPUV. Diante do que consideram um total descaso, o sindicato que representa a categoria já está preparando uma denúncia formal a ser protocolada no Ministério Público do Estado do Pará (MPPA).
A expectativa é que o órgão fiscalizador investigue a execução dos contratos, a aplicação dos recursos e a possível improbidade administrativa na gestão de uma das secretarias mais cruciais e mais bem financiadas de Canaã dos Carajás. Enquanto isso, os agentes seguem trabalhando em condições precárias, e a segurança da população permanece comprometida.
Para Onde Vai o Dinheiro ?
O retrato que se forma é o de uma secretaria inviável, inchada de contratos, esvaziada de resultado, onde os servidores precisam improvisar para cumprir o dever constitucional de proteger e fiscalizar o trânsito — enquanto empresas privadas faturam alto por serviços que, comprovadamente, não estão sendo entregues.
Enquanto os agentes se arriscam e a população fica desassistida, os contratos milionários continuam sendo pagos integralmente. A situação na Secretaria de Segurança Pública e Viária de Canaã dos Carajás levanta um questionamento crítico para os cidadãos e órgãos de fiscalização: onde os R$ 172 milhões foram efetivamente aplicados? A resposta, por enquanto, não é encontrada na qualidade dos serviços prestados, mas sim na crescente lista de falhas e denúncias de uma gestão que, apesar do orçamento robusto, falha em garantir o básico.



