A análise das despesas da Prefeitura de Canaã dos Carajás revela um padrão preocupante na aplicação de recursos públicos pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE). Só em 2024, já foram pagos R$ 4.471.826,39 à empresa Polyvin Plásticos e Derivados Ltda, responsável exclusiva pelo fornecimento de materiais hidráulicos no município. Agora, no início de 2025, a história se repete: até 23 de abril, mais R$ 2.281.385,30 foram destinados à mesma empresa, em uma sequência de empenhos com valores elevados e pouca diversificação de fornecedores .
Entre os empenhos mais recentes, destacam-se notas individuais que ultrapassam facilmente a casa dos R$ 200 mil — sendo uma delas de R$ 496.064,75 — e outras de R$ 370 mil, R$ 236 mil, além de múltiplas despesas acima de R$ 100 mil. Todos os contratos seguem a mesma finalidade: aquisição de materiais hidráulicos para “atender demandas de ampliação e manutenção das redes de água” do SAAE, sempre por meio de atas de registro de preços ou contratos carona.
A concentração de todo esse volume financeiro em uma única empresa, ano após ano, escancara a falta de competitividade e transparência nas compras públicas. Embora o SAAE justifique a demanda por manutenção das redes de água, a ausência de concorrência efetiva e o uso recorrente de contratos por adesão (“carona”) dificultam a fiscalização e aumentam a possibilidade de sobrepreço ou favorecimento.
Em cidades como Canaã dos Carajás, que dispõem de um dos maiores orçamentos proporcionais do interior do Brasil, a repetição desses contratos milionários levanta suspeitas sobre a gestão dos recursos do saneamento. Enquanto o dinheiro público some em compras concentradas, o cidadão continua enfrentando os mesmos problemas: abastecimento irregular, obras inacabadas e falta de explicações detalhadas sobre a real destinação dos materiais adquiridos.
Resumo dos números:
2024: R$ 4.471.826,39 pagos à Polyvin Plásticos e Derivados Ltda.
2025 (até 23/04): R$ 2.281.385,30 destinados à mesma empresa.
Total em 16 meses: R$ 6.753.211,69 — tudo para um único fornecedor de material hidráulico.
Perguntas que seguem sem resposta:
O SAAE divulga, de fato, para onde vai cada tubo, válvula ou peça adquirida?
Existe fiscalização física sobre o uso e o armazenamento desses itens?
Por que apenas uma empresa vence todos os contratos?
É fundamental que o Ministério Público e os órgãos de controle intensifiquem a fiscalização sobre essas contratações em Canaã dos Carajás. Sem transparência e concorrência real, cresce o risco de desperdício do dinheiro público — e quem perde é sempre a população.
