O Pará figura novamente entre os estados com os piores índices de insegurança alimentar grave no Brasil, uma dura realidade que contrasta com a imagem de prosperidade promovida pelo governo de Helder Barbalho (MDB). Segundo dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua 2024) do IBGE, 7% dos lares paraenses enfrentam a fome severa, um número alarmante que coloca o estado em terceiro lugar no ranking nacional, atrás apenas do Amapá e do Amazonas.
Apesar do país ter conseguido uma redução média da fome, a região Norte concentra a maior parte do problema, com 37,7% dos domicílios em algum nível de insegurança alimentar. No Pará, essa estatística ganha contornos dramáticos: a fome atinge principalmente famílias chefiadas por mulheres, pessoas de baixa escolaridade e pardas, concentradas em comunidades rurais e nas periferias urbanas.
Prioridade à Propaganda e Omissão Social
A análise dos relatórios de execução orçamentária revela uma desconexão evidente entre o discurso oficial e a realidade. Enquanto a fome avança, o governo do Pará tem direcionado uma parte substancial do orçamento para publicidade e eventos milionários. Relatórios indicam um gasto superior a R$ 500 milhões em propaganda desde 2023, um valor que é quase três vezes maior do que o investimento direto em programas de segurança alimentar e combate à pobreza.
Programas sociais como o Cesta Pará, lançado com grande publicidade em 2021, hoje se encontram em estado de abandono e falta de transparência. A distribuição de alimentos é irregular, e as políticas de apoio à agricultura familiar, setor fundamental para a autonomia alimentar, permanecem estagnadas, recebendo menos de 0,5% do orçamento estadual.
A Fome Oculta e a Contradição da Riqueza
O Pará é um estado de imensa riqueza, arrecadando bilhões em royalties da mineração, ICMS e repasses federais. No entanto, essa riqueza não se traduz em bem-estar para a população. O estado, que é um dos maiores produtores minerais do país, continua com índices vergonhosos em IDH, saneamento básico, acesso à água potável e nutrição infantil. A contradição é clara: a riqueza sai pelo porto, e a fome fica nas casas.
A crítica a essa gestão se intensifica com a proximidade da COP-30, evento que o governo paraense busca transformar em vitrine global. Enquanto se investe em infraestrutura para grandes eventos, as comunidades ribeirinhas e rurais continuam sem acesso a serviços básicos. A fome, que se manifesta na forma de famílias que sobrevivem com farinha e café, e na insegurança alimentar de comunidades indígenas e quilombolas, se torna uma tragédia ignorada pelo discurso oficial.
Os números do IBGE desmontam o discurso triunfalista de Helder Barbalho. Por trás da propaganda de “Pará de oportunidades”, há um estado onde a desigualdade cresce, a pobreza se espalha e o governo se omite. A fome, que deveria ser combatida como prioridade absoluta, virou estatística ignorada — e o silêncio das autoridades é cúmplice dessa tragédia.