A gestão do prefeito Valdir Lemes em Novo Repartimento está sob intenso escrutínio público e de moradores que denunciam a má aplicação de mais de R$ 2,3 milhões em obras de pontes, cujos resultados são considerados “serviços de má qualidade” e “incompatíveis” com os altos custos. A reportagem, baseada em documentos da própria Prefeitura e em vídeos de moradores, revela um cenário de suposto fatiamento de contratos, pagamentos duvidosos e uma alarmante falta de segurança nas obras recém-concluídas.
“Eu tô reclamando porque eu moro aqui na 220. Tá aí um pai de família… o secretário e o prefeito não tão preocupados com isso, não. Tá preocupado com os 7 milhões que entrou na gestão pra fazer 10 pontes de madeira. Olha a situação dessas pontes! Nosso dinheiro tá indo embora. Vamos abrir o olho! Isso aqui tá mal feito demais. Falta madeira! Será que no Pará não tem madeira, não? Se uma moto cair aqui, já era. E essa ponte foi reformada agora, viu gente? Ontem! Serviço de má qualidade!”
As imagens mostram madeiras faltando, pontes sem guarda-corpos, e restos de construção deixados nas margens dos rios, em total desrespeito às normas de segurança e ao meio ambiente.
Milhões em Pontes que “Não Param de Cair”
Análises dos registros de despesas de 2025 mostram que a Prefeitura direcionou R$ 2.314.162,54 para a construção e manutenção de pontes. No entanto, o resultado visível é de descuido e risco iminente. Um morador da zona rural filmou a situação das pontes, expondo buracos, falta de madeiras e a ausência de guarda-corpos. “Se uma moto cair aqui, já era”, alertou ele, indignado com a qualidade de uma obra que, segundo seu relato, foi “reformada ontem”.
Os documentos revelam que a maior parte desses milhões foi concentrada em apenas duas empresas e um grupo seleto de pessoas físicas. A Bello Monte Empreendimentos, Transporte e Serviços Ltda., por exemplo, teve um faturamento total de R$ 15.035.343,58 com a prefeitura em 2025, dos quais R$ 1.838.598,18 foram gastos com a construção e manutenção de pontes. A empresa também presta serviços de locação de caminhões e atua em obras de orla e praças, o que levanta suspeitas sobre a finalidade de contratos que podem estar sendo usados para “mascarar despesas”.
Da mesma forma, a Evandro Teixeira Campos Comercio faturou R$ 7.714.609,33 no mesmo período. Desse total, R$ 381.564,36 foram direcionados para a compra de combustíveis “supostamente” para a manutenção de pontes. O montante é considerado “incompatível” com o volume de obras, sugerindo a possibilidade de combustível sem comprovação de uso.
📲 Siga nosso perfil no Instagram
Obras sem segurança e risco de tragédia
As pontes recém-reformadas, apesar dos altos custos, apresentam defeitos estruturais visíveis. Madeiras empenadas, vãos abertos, falta de corrimão e acúmulo de resíduos de construção transformam a travessia em uma roleta russa.
O risco é evidente: uma simples falha pode custar vidas. “Se uma moto cair aqui, um pai de família perde a vida”, alertou o morador que filmou a situação. E, de fato, nenhum registro público mostra a existência de laudos técnicos, ARTs ou inspeções de segurança após as obras — documentos obrigatórios em qualquer contrato público de infraestrutura.
Prestadores fantasmas e pagamentos fatiados
Os documentos revelam um grupo de 15 pessoas físicas contratadas como “serradores de madeira” com valores idênticos e repetidos no mesmo dia:
dois pagamentos por pessoa (R$ 615,00 + R$ 11.480,00), sempre com o mesmo texto e o mesmo memorando administrativo — um indício claro de fatiamento para escapar de licitação.
Entre os beneficiados estão:
Emerson Botelho Ribeiro, Frank Oliveira Botelho, Adriano Cabral da Silva, Auberth Barros Barbosa, Cenatil Jacobsim, Antonio Marcos Bezerra dos Santos, Patrício Abreu da Silva, Rangel Valentim dos Santos, Jadilson Figueira da Silva, Marcos Dhones de Almeida Lima, Francisco Ricardo Silveira Vasconcelos, Adegildo Jacobsim, André Alves da Silva, Thaylon Robson Almeida Botelho e Hugo Santos de Macedo.
Todos receberam valores entre R$ 10.626,32 e R$ 13.100,00, totalizando aproximadamente R$ 180 mil em pagamentos diretos, todos classificados como “Outros serviços de terceiros – pessoa física”, modalidade “Outros/não se aplica”, o que evidencia a ausência de licitação formal
O problema se agrava porque esses pagamentos são classificados como “Outros serviços de terceiros – pessoa física”, modalidade “Outros/não se aplica”, o que, na prática, contorna a necessidade de um processo de licitação formal
📲 Siga nosso perfil no Instagram
Um Único Memorando, Múltiplos Contratos
Para piorar, os documentos mostram que os pagamentos para os prestadores de serviço usaram apenas três memorandos: 025/2025, 026/2025 e 027/2025, referindo-se a “manutenções de pontes” em locais repetidos (Vicinais 01, 04 e 07, no P.A. Tuerê e Parakanã).. Isso significa que um único documento administrativo serviu de base para dezenas de pagamentos, violando o princípio da exclusividade da despesa e abrindo portas para a duplicação de empenhos e o superfaturamento.
A falta de laudos técnicos, ARTs (Anotação de Responsabilidade Técnica) ou inspeções de segurança para essas obras — que são obrigatórias em qualquer contrato público de infraestrutura — demonstra uma total irresponsabilidade com a segurança da população.
Enquanto milhões saem dos cofres da Prefeitura, as pontes continuam precárias, e a população segue exposta. A gestão Valdir Lemes mostra o retrato do descaso administrativo: muito dinheiro gasto, pouca transparência e nenhuma segurança.
A promessa de infraestrutura virou um negócio lucrativo para poucos e perigoso para todos.
Veja o vídeo de um morador:
📲 Siga nosso perfil no Instagram
Foonte: Lista de despesas pagas pela prefeitura de Novo Repartimento

BELLO MONTE EMPREENDIMENTOS, TRANSPORTE E SERVIÇOS LTDA

EVANDRO TEIXEIRA CAMPOS COMERCIO


ANTONIO MARCOS BEZERRA DOS SANTOS



Todos os demais nomes e empresas citados podem ser conferidos no portal oficial de transparência: governotransparente.com.br
A Página Estado Transparente reforça que todas as matérias publicadas são fundamentadas em dados oficiais obtidos nos portais de transparência municipais, estaduais e federais.
Os valores citados na reportagem sobre Novo Repartimento foram retirados de registros públicos de despesas da prefeitura, disponíveis para qualquer cidadão consultar.
A página continuará exercendo seu papel de vigiar, informar e esclarecer a população sobre a destinação de recursos públicos, mantendo a independência editorial e a responsabilidade com a verdade.