A sessão ordinária da Câmara Municipal de Parauapebas nesta terça-feira (09) foi marcada por um embate verbal intenso entre o vereador Zé da Lata (pai do prefeito Aurélio Goiano) e o oposicionista Fred Sansão. O confronto, que girou em torno de problemas de alagamentos no Bairro Califórnia e na VS-10, ganhou contornos ainda mais polêmicos ao remeter a um incidente ocorrido na véspera (8), envolvendo Sansão e o blogueiro Bombom de Alho, aliado da gestão municipal. A troca de farpas expôs fissuras na base governista e reacendeu debates sobre fiscalização, obras públicas e supostas retaliações políticas.
O estopim da discussão foi uma fala inicial de Sansão, que cobrou ações concretas da prefeitura contra os alagamentos crônicos na região da VS-10 – conjunto de bairros periféricos afetados pelas chuvas do inverno amazônico. Ele citou uma visita recente ao Bairro Califórnia, onde constatou problemas de drenagem, e questionou o que teria sido feito pela gestão em termos de “treinagens” (termo popular para limpeza de canais de escoamento). “Falar é fácil, o difícil é fazer”, disparou Sansão, dirigindo-se diretamente a Zé da Lata, que reside na área e é visto como um dos principais representantes da região na Casa.
Zé da Lata, visivelmente irritado, rebateu com veemência, defendendo-se de acusações de omissão e contra-atacando Sansão por supostamente “querer cuidar da casa dos outros” sem resolver problemas em sua própria base eleitoral. “O senhor não sabe da missa metade, e já está querendo ser um vigia e rezar a missa”, ironizou o vereador, relatando um alagamento pessoal em sua propriedade há anos, com água derrubando um muro de 3,5 metros. Ele enfatizou que a VS-10 pertence a “todos os vereadores” e criticou loteamentos irregulares aprovados no passado pela Câmara, inclusive o seu próprio, comprado “enganado” sem escritura até hoje. Zé da Lata ainda provocou: “Cuide da sua casa que você não cuida e fica querendo cuidar da casa dos outros. Fica com Deus e até a próxima”
A réplica de Sansão elevou o tom, transformando o debate em uma acusação direta de retaliação política ligada ao episódio da segunda-feira. O vereador oposicionista detalhou que sua ida ao Califórnia visava fiscalizar, em conjunto com o vice-presidente do bairro. “Nós pedimos um serviço de limpeza de drenagem. Sabemos da data que ia chegar o inverno amazônico”, explicou, creditando a si próprio a movimentação de máquinas vistas recentemente atrás da Câmara. “Infelizmente, só trabalha quando é provocado, e não deveria”.
Sansão então conectou o debate ao incidente com Bombom de Alho, que ocorreu na zona rural de Parauapebas, nas imediações do Projeto Furnas. Segundo relatos, o blogueiro, conhecido por conteúdos pró-governo, invadiu a fazenda de Sansão para gravar vídeos, alegando denúncias de perseguição e disparos de arma de fogo por um segurança ligado ao vereador. Na delegacia, onde Bombom registrava boletim de ocorrência, Sansão compareceu e, em meio a uma discussão acalorada, desferiu um tapa no rosto do influenciador, quebrando seu celular. O caso envolveu ainda um policial militar a paisana – apontado por Sansão como chefe de segurança do prefeito Aurélio Goiano –, que estaria armado com fuzil e teria proferido ameaças na propriedade do vereador, como “Liga pro Aurélio” e “Pega minha arma e põe na tua cintura”.
“Era um ato de ajudar alguém e prestar justiça, ou era um ato de violência na tentativa de matar e calar a boca de um parlamentar, porque simplesmente está fazendo o seu trabalho?”, questionou Sansão na tribuna, acusando o terno vermelho de Zé da Lata de simbolizar “sangue, ódio e violência”. Ele negou intenções de expor bens pessoais do colega, mas destacou a proximidade da casa de Zé com um “rio” e áreas de preservação permanente, citando declarações da chefe de gabinete municipal sobre ocupações irregulares. “Eu não temo as falas daquele senhor que presta um desfavor pra uma sociedade. Um jagunço pago pelo município”, provocou, referindo-se ao blogueiro.
O embate gerou murmúrios entre os demais vereadores e um clima tenso no plenário, interrompido apenas pelo presidente da Casa, que encerrou as falas para prosseguir com a pauta. A sessão aprovou, por maioria, requerimentos para melhorias em drenagem na VS-10, mas o foco permaneceu na troca de acusações. Até o momento, a Polícia Civil investiga o incidente de segunda-feira, com imagens de câmeras de segurança da delegacia como prova. Bombom de Alho divulgou vídeos nas redes sociais, enquanto Sansão compartilhou registros de supostos danos em sua fazenda, como produtos agrícolas derramados.
A oposição municipal, tem intensificado críticas à gestão de Aurélio Goiano em temas como infraestrutura e transparência. Analistas locais veem o episódio como sintoma de polarização crescente em Parauapebas, onde questões como alagamentos afetam milhares de famílias anualmente.
