Quem é o verdadeiro palhaço? População paga por asfalto superfaturado, 40% mais fino do que o contratado em Parauapebas

Enquanto vereadores aliados desfilam em obras milionárias, a única que fiscalizou virou alvo de ataques. A denúncia de Maquivalda levanta uma pergunta incômoda: quem está sendo ridicularizado — a vereadora ou o povo enganado?
Facebook
WhatsApp

A vereadora Maquivalda expôs um possível escândalo de superfaturamento nos contratos de pavimentação do bairro Cidade Jardim, em Parauapebas, logo após o prefeito Aurélio Goiano (AVANTE) usar as redes sociais para celebrar o “asfalto de 5 cm” como símbolo de avanço na infraestrutura do município. Dias depois da publicação do prefeito, a vereadora foi até o local mostrado no vídeo e constatou — com medições feitas no próprio asfalto — que a espessura real era ainda menor: em vários pontos, o pavimento tem apenas 4,5 cm.

O detalhe técnico poderia passar despercebido por boa parte da população, mas ganha outro peso diante dos contratos assinados pela prefeitura. O Contrato nº 20220399, referente à “Construção de Redes de Drenagem e Pavimentação com CBUQ no Bairro Cidade Jardim (Etapas 2, 7 e 8)”, prevê camada de 7,5 cm de espessura, conforme o Memorial Descritivo contratual.

De acordo com o documento, qualquer execução inferior a essa medida configura descumprimento de contrato e pode resultar em redução de até 50 % da vida útil da obra, economia indevida da empresa contratada e prejuízo técnico e financeiro ao município.

Milhões pagos por um serviço entregue pela metade

Segundo dados obtidos, o contrato inicial, firmado em 2022, tinha valor de R$ 56,8 milhões. Com o aditivo de R$ 8,8 milhões em 2025, o total contratado subiu para R$ 65,6 milhões.

Até agora, a prefeitura já desembolsou R$ 59,1 milhões, sendo:

  • 2022 → R$ 4.070.338,78
  • 2023 → R$ 11.625.238,84
  • 2024 → R$ 22.208.501,57
  • 2025 → R$ 21.206.580,97

📲 Siga nosso perfil no Instagram

Apesar de todos esses pagamentos, moradores e a vereadora denunciam problemas de drenagem, rachaduras precoces e espessura inferior ao contratado. O que deveria ser um projeto de urbanização robusto se tornou sinônimo de “asfalto sorrizal” — expressão usada popularmente para descrever pavimento que se desmancha com a chuva.

Blindagem política e falta de transparência

Enquanto as denúncias ganham força, a base governista na Câmara Municipal segue votando contra requerimentos que pedem informações sobre os contratos. Diversas tentativas de fiscalização foram barradas sob justificativas frágeis. Em um dos episódios mais comentados, vereadores aliados ao prefeito rejeitaram um requerimento que pedia transparência sobre um contrato de R$ 84 milhões para obras de pavimentação.

A manobra gerou revolta entre parte da população e foi vista como mais uma demonstração de blindagem ao governo Aurélio Goiano, criticada até por antigos aliados.

O ataque a quem fiscaliza

Após as denúncias, páginas ligadas a apoiadores do governo ironizaram a vereadora e transformaram sua ação de fiscalização em memes nas redes sociais.

Mas a pergunta que fica é: quem é o verdadeiro “palhaço” dessa história?

A resposta parece óbvia. A população de Parauapebas, que paga caro por obras milionárias e recebe ruas que precisam ser refeitas duas ou três vezes; os cidadãos que convivem com alagamentos e asfaltos esfarelando; e os contribuintes que veem o dinheiro público evaporar entre erros técnicos e contratos de valores astronômicos.

Enquanto isso, a maioria dos 17 vereadores prefere posar ao lado do prefeito em inaugurações a cumprir o dever de fiscalizar. Quem tenta fazer o trabalho de verdade é atacado e ridicularizado.

Fiscalizar não é ser oposição

O episódio evidencia um problema maior: a cultura política de confundir fiscalização com perseguição. Fiscalizar é dever constitucional do vereador. O que não é normal é a Câmara agir como braço de defesa do Executivo, ignorando sinais de superfaturamento e descumprimento contratual.

Em tempos de discursos ensaiados e obras reluzentes para redes sociais, quem se levanta para fiscalizar vira alvo. Mas são justamente essas vozes que ainda mantêm viva a esperança de uma cidade mais transparente, onde cada centavo do dinheiro público se transforme em qualidade de vida real — e não um “asfalto sorrizal”.

📲 Siga nosso perfil no Instagram

https://www.instagram.com/p/DO7RuVZDT6O/?igsh=MWE1MjI3OWF0c21wMg==

Nos acompanhe no WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Siga o Canal PBS nas Redes