Em meio ao glamour internacional da COP30, em Belém, um episódio de violência e contradições manchou a imagem do prefeito de Parauapebas, Aurélio Goiano (Avante), nesta sexta-feira (14). O gestor, foi flagrado em vídeo sendo contido por seguranças da ONU após uma confusão que Segundo o portal O Liberal, resultou na agressão ao jornalista Wesley Costa. Mas, enquanto o mundo discute mudanças climáticas, uma pergunta ecoa mais alto em Parauapebas: cadê a ponte de R$ 1,5 milhão que a administração municipal pagou e que, até agora, parece nunca ter saído do papel?
Por sua vez, Aurélio Goiano afirma que foi provocado e que as versões são “inventadas para queimar” sua imagem. Imagens do incidente mostram o prefeito sendo retirado do estúdio da emissora, dizendo que “foi agredido” e exigindo providências. No entanto, até o momento, nenhuma gravação clara confirma a versão de Goiano nem a do jornalista — e nenhuma imagem adicional surgiu para esclarecer se o tapa partiu dele ou de outra pessoa. A credencial do prefeito foi suspensa pelos organizadores da conferência, que classificaram a atitude como “inaceitável” em um evento que preza pelo diálogo e pela liberdade de imprensa.
Mas o episódio na COP30 é apenas a ponta do iceberg de uma gestão sob escrutínio. A denúncia da “ponte fantasma” no Rio Pulga, levantada pela vereadora Maquivalda Aguiar Barros (PDT) e noticiada na terça-feira (11), ganhou um novo e importante capítulo nesta semana. O Poder Judiciário do Pará acatou a Ação Popular movida pela parlamentar (nº 0818998-22.2025.8.14.0040) e determinou que o Município de Parauapebas apresente, em até cinco dias úteis, todos os documentos que comprovem a execução da obra. A decisão é do juiz Lauro Fontes Júnior, que conduz o processo e considerou as provas apresentadas “relevantes e tecnicamente circunstanciadas”.
A ação, que tem como valor da causa R$ 1.500.884,35, lista como réus o prefeito Aurélio Ramos de Oliveira Neto, a secretária Roginaldo Rebouças Rocha (Secretário de Obras), Manoel André Ferreira Fulco e o Consórcio RN – P. Alta, além do próprio município. Os assuntos centrais da denúncia são Dano ao Erário, Enriquecimento Ilícito e Violação dos Princípios Administrativos. O juiz exigiu que a prefeitura apresente relatórios oficiais detalhados, incluindo boletins de medição, diários de obra, notas fiscais, fotos e relatórios de fiscalização que comprovem a execução do contrato – que, segundo a denúncia, teve um custo de R$ 1,5 milhão, excedendo o custo total estimado de R$ 1,19 milhão, com medições duplicadas e publicação tardia de aditivo contratual.
A suposta ponte seria construída com estrutura de concreto armado e 35 metros de extensão sobre o Rio Pulga, ligando comunidades da zona rural. No entanto, vistorias realizadas na área constataram ausência de obras, maquinários ou canteiro de obras, restando apenas aduelas antigas, feitas há mais de três anos. Para dar prosseguimento ao caso, o juiz Lauro Fontes Júnior intimou o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) a se manifestar e alertou que, caso a Prefeitura não comprove a execução, poderá haver suspensão do contrato e bloqueio de novos pagamentos. A polêmica reacende o debate sobre fiscalização de contratos públicos e uso indevido dos royalties da mineração, que deveriam ser aplicados em infraestrutura.
Em uma cidade marcada pela mineração e pela desigualdade, onde estradas vicinais e infraestrutura básica são crônicas demandas da população, o sumiço de R$ 1,5 milhão para uma “obra invisível” soa como deboche. “É o retrato de uma gestão que gasta em fotos internacionais, mas esquece o básico em casa”, ironizou um morador anônimo em rede social. Até agora, silêncio absoluto da administração Goiano.
A agressão em Belém e o escândalo da ponte expõem um mesmo padrão: falta de transparência e responsabilidade pública. Aurélio Goiano, que se elegeu prometendo eficiência e moralidade, hoje aparece mais cercado de assessores do que de explicações. A Polícia Civil do Pará investiga a agressão ao jornalista, o Ministério Público deve avançar sobre a ponte fantasma, e o caso já está no Judiciário — com potencial de se tornar um dos maiores escândalos de obra inexistente da história de Parauapebas. Enquanto isso, a cidade continua esperando respostas — não mais tapas, versões confusas ou promessas vazias. A COP30 termina em 26 de novembro; as pendências do prefeito com a população só estão começando.



