PF desmantela esquema milionário na Prefeitura de Belém: R$ 153 milhões em contratos sob suspeita de fraude

A investigação da PF deixa claro: as obras que deveriam melhorar a vida do povo serviram como disfarce para lavar dinheiro e premiar aliados políticos. O saneamento básico virou um canal de corrupção.
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A Operação Óbolo de Caronte, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (16), expôs um sofisticado esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que teria desviado R$ 153 milhões de contratos de saneamento e obras em Belém. O período investigado, de 2020 a 2024, coloca a gestão do Prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) no centro do escândalo, já que a maior parte dos contratos sob suspeita e as práticas denunciadas ocorreram durante seu mandato (2021-2024) na então Secretaria Municipal de Saneamento (SESAN), hoje rebatizada de SEZEL.

O montante sob suspeita atinge a cifra assombrosa de R$ 153 milhões em contratos. Segundo a PF, o dinheiro destinado a obras prioritárias para Belém – cidade historicamente carente de saneamento básico – foi drenado por um grupo criminoso. Um forte indício de lavagem de dinheiro é a prática de saques em espécie realizados logo após os pagamentos oficiais às empresas ligadas ao esquema. Em uma etapa anterior da investigação, em novembro de 2024, já haviam sido apreendidos R$ 601 mil em dinheiro vivo, escondidos em imóveis dos envolvidos.

Justiça Intervém: Bloqueios e Afastamentos Imediatos

Em resposta à gravidade das apurações, a Justiça Federal autorizou 13 mandados de busca e apreensão, o afastamento de 12 servidores públicos e a suspensão de três contratos, além do bloqueio de bens dos investigados em Belém e no Rio de Janeiro. A operação representa um duro golpe contra gestores e empresários que, conforme a PF, tratavam os contratos públicos como “cofres particulares”.

A gestão de Edmilson Rodrigues prometeu uma virada em transparência e participação popular. Porém, os indícios expostos pela operação denunciam o oposto: uma administração permeada por práticas que evidenciam fragilidade institucional e concentração de poder sem controle.

Propostas de saneamento e assistência social, como o Projeto Mata Fome, foram alvos de contratos milionários que agora estão sob suspeita — justamente quando se esperaria rigor na aplicação dos recursos públicos. Ou seja: o discursosocial virou fachada para movimentações suspeitas de dinheiro pesado.

Se confirmadas as acusações, não se trata apenas de desvios — é um caso de ruptura de confiança entre o município e sua população. O esquema teria drenado verbas que poderiam ter sido aplicadas em esgoto, drenagem urbana, infraestrutura básica e serviços vitais.

A Ironia Cruel do “Mata Fome”

Um dos pilares do escândalo é o controverso Projeto Mata Fome, que integra o PAC Seleções do Governo Federal e está avaliado em R$ 132 milhões. A licitação desse projeto já havia sido suspensa em janeiro deste ano pelo Tribunal de Contas dos Municípios do Pará (TCM-PA), por indícios de inconsistências e sobrepreço. A Operação Óbolo de Caronte (nome que remete ao barqueiro da mitologia grega que cobrava para levar as almas ao submundo) revela a perversidade do esquema: um projeto batizado para combater a fome teria se transformado em símbolo de um apetite voraz por dinheiro público.

Crítica: O Custo da Impunidade para o Cidadão de Belém

A prefeitura de Belém apressa-se em alegar que os contratos são de “gestões passadas”, mas a PF e a Justiça Federal desmentem a narrativa: a corrupção persistiu no órgão que foi apenas renomeado. A intervenção judicial resultou no afastamento de 12 servidores e no bloqueio de bens, evidenciando que a máquina pública, sob a atual administração, não conseguiu (ou não quis) extirpar os vícios que tratavam o dinheiro do saneamento como “cofre particular”.

Milhões evaporam nos esquemas, Belém continua a pagar o preço com impostos e, sobretudo, com a precariedade de serviços essenciais, como buracos nas ruas e a recorrência de alagamentos. A Operação Óbolo de Caronte não é apenas uma ação policial; é um doloroso lembrete de que a complacência com o desvio de recursos leva a cidade a uma travessia sombria, onde a conta do descaso é sempre paga pelo cidadão.

Enquanto a gestão se debate em notas e desculpas, a realidade é cruel: Belém, às vésperas de eventos internacionais, segue com um saneamento precário, ruas esburacadas e alagamentos frequentes. A Operação Óbolo de Caronte é a prova cabal de que, independentemente da cor partidária, a complacência com o desvio de recursos públicos é a única política que realmente avança na capital, custando caro – em impostos e em qualidade de vida – à população.

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