A Polícia Federal deflagrou a Operação Rota de Hermes, revelando um esquema de corrupção que drenava recursos destinados à educação básica para sustentar luxo e ostentação. O alvo: contratos superfaturados de transporte escolar bancados com dinheiro do FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) e do PNATE (Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar).
Mandados e apreensões
A ação cumpriu 12 mandados de busca e apreensão nas cidades de Altamira, Medicilândia e Brasil Novo, onde empresas de fachada estariam operando para fraudar contratos públicos. Durante as diligências, os agentes apreenderam:
- R$ 328 mil em dinheiro vivo;
- Veículos de luxo adquiridos com o dinheiro desviado;
- Joias e outros bens de alto valor, incompatíveis com a renda declarada dos investigados.
O material foi levado para a sede da Polícia Federal em Altamira e vai subsidiar a investigação sobre a origem e movimentação dos recursos.
O impacto direto nas crianças
Enquanto o esquema alimentava fortunas privadas, alunos da rede pública eram transportados em veículos improvisados, sem cintos de segurança, com lotação irregular e sem manutenção adequada. Há relatos de ônibus escolares em péssimo estado circulando em estradas da Transamazônica, colocando em risco diário centenas de estudantes.
A investigação aponta que, apesar do repasse robusto de verbas federais, os municípios contratavam serviços de qualidade precária, deixando claro que o objetivo era apenas esquentar dinheiro e enriquecer poucos à custa do futuro das crianças.
O modus operandi
Segundo a PF, o grupo utilizava empresas de fachada e subcontratações irregulares para simular concorrência em licitações e justificar os contratos superfaturados. O sobrepreço nos serviços era pago com recursos do FUNDEB e PNATE, mas o transporte não correspondia ao que estava previsto em contrato.
Repercussões
A operação expõe uma ferida antiga da gestão pública no interior do Pará: a corrupção estrutural em serviços essenciais. O desvio de verbas da educação não é novidade, mas o caso chama atenção pelo cinismo de quem lucrava com dinheiro destinado ao transporte escolar.
A Polícia Federal seguirá analisando documentos, extratos bancários e bens apreendidos. Os investigados poderão responder por:
- Fraude em licitação;
- Desvio de recursos públicos;
- Lavagem de dinheiro;
- Organização criminosa.
As penas somadas podem ultrapassar 20 anos de prisão.
Análise crítica
Enquanto em Brasília se discute mais repasses para a educação, na prática o dinheiro não chega ao destino final. O caso da Rota de Hermes mostra como gestores e empresários inescrupulosos transformam a sala de aula em fonte de enriquecimento ilícito, deixando crianças expostas a riscos e comunidades sem a mínima dignidade no transporte.
O episódio reforça a necessidade de maior fiscalização da aplicação do FUNDEB e do PNATE, fundos que juntos movimentam bilhões todos os anos. Sem transparência, continuam sendo vistos como caixa-preta da corrupção municipal.