O Pará acaba de bater um recorde vergonhoso: o número de famílias que sobrevivem graças ao Bolsa Família superou o total de trabalhadores com emprego formal. São 1.252.847 famílias recebendo o benefício federal contra apenas 1.036.721 paraenses com carteira assinada, segundo dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento Social e do Novo CAGED. Traduzindo: 216 mil famílias a mais penduradas no dinheiro do governo do que sustentadas por um salário digno.
Os dados mostram uma redução gradual dos beneficiários do Bolsa Família ao longo de 2025. Em janeiro, o estado tinha 1.356.338 famílias recebendo o benefício, mas o número caiu mês a mês, encerrando o ano com 1.252.847, o que representa queda de mais de 100 mil famílias.
Mesmo com essa redução, o percentual de cobertura do programa segue alto: 93,39% das famílias pobres identificadas pela PNAD estão incluídas no Bolsa Família.
Enquanto isso, o CAGED indica que o Pará gerou saldo positivo de 49.043 empregos até o momento em 2025, com 447.273 admissões e 398.230 demissões. O setor de serviços lidera a geração de vagas, seguido por comércio, indústria e construção civil.
No entanto, os números ainda são insuficientes para reduzir a dependência social: a cada 100 famílias pobres, apenas 77 contam com um membro empregado formalmente.
O contraste da economia paraense
O pior é o cinismo do contraste. O Pará é um dos estados mais ricos em recursos naturais do planeta. Parauapebas e Canaã dos Carajás nadam em royalties da mineração – municípios que, sozinhos, arrecadam mais CFEM do que estados inteiros. Mas onde está esse dinheiro? Não virou escola, hospital, infraestrutura ou indústria que gere emprego de qualidade. Virou, isso sim, bolsa, cesta básica e voto cativo.
Porque é disso que se trata, no fim das contas. Mais de 1,2 milhão de famílias com o benefício caindo na conta todo mês formam o maior eleitorado dependente já visto na história do estado. Qualquer governador, prefeito ou deputado que ouse mexer no programa sabe que terá uma multidão na porta. O Bolsa Família deixou de ser política social e virou moeda de troca eleitoral – e o Pará é o laboratório perfeito dessa distorção.
O retrato é cruel: um estado abençoado por Deus e bonitado pela Vale vive de esmola federal enquanto seus políticos posam de gestores competentes. A riqueza mineral continua saindo em trens lotados para o exterior, e o que fica é o pó vermelho nas ruas, o desemprego e a fila do cadastro único.
Até quando o Pará vai aceitar ser o rico mais pobre do Brasil?
Veja empregos formais Novo CAGED, do Ministério do Trabalho

Taxa de Cobertura das Famílias do Bolsa Família, a partir da PNADC





