O influenciador digital e sacerdote católico Padre Patrick Fernandes prestou, nesta quarta-feira (21), um depoimento firme e comovente à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, no Senado Federal, denunciando o avanço desenfreado da publicidade de jogos de aposta no Brasil. Ele revelou ter recusado uma proposta de R$ 560 mil para promover plataformas do setor, chamando a prática de “problema de saúde pública” e “aliciamento de influenciadores”.
A CPI das Bets foi instaurada para investigar a atuação de influenciadores digitais na promoção de jogos de azar e a legalidade de contratos firmados com plataformas de apostas. O tema ganhou notoriedade diante da crescente exposição de públicos vulneráveis — principalmente jovens e endividados — às propagandas do setor.
Convite espontâneo e alerta sobre vício
O convite ao sacerdote surgiu após o próprio padre, que possui milhões de seguidores nas redes sociais, declarar publicamente que desejava contribuir com os trabalhos da comissão. Em sua fala, ele denunciou o aumento preocupante de casos de ludomania — o vício em jogos — especialmente entre homens jovens das regiões Norte e Nordeste do Brasil.
“Hoje a ludomania é classificada como transtorno mental. Isso não é só fala de um padre, mas também da ciência”, afirmou Patrick. Segundo ele, sua atuação pastoral o coloca em contato direto com famílias destruídas por dívidas oriundas de apostas, o que reforça seu engajamento no debate. “É uma questão que afeta a dignidade humana.”
R$ 560 mil por stories: proposta indecente
O momento mais chocante da audiência foi quando o sacerdote revelou ter recebido uma proposta de R$ 560 mil para fazer publicações no Instagram, mesmo antes de atingir 1 milhão de seguidores. “Me ofereceram R$ 560 mil para fazer stories duas vezes por semana. Recusei de imediato”, declarou.
Ele ainda acrescentou que as abordagens continuam até hoje, feitas por mensagens diretas. “Existe um aliciamento, principalmente com perfis que têm grande alcance. É uma tentativa clara de compra de influência.”
Crítica direta aos influenciadores e pedido por leis rígidas
Padre Patrick não poupou críticas aos influenciadores que aceitam parcerias com casas de apostas. Para ele, o discurso de “jogue com moderação” é ilusório e ineficaz. “Esses alertas são completamente inúteis. É como vender veneno e escrever no rótulo: ‘beba com responsabilidade’”, ironizou.
Durante a audiência, o sacerdote defendeu a criação de leis mais rígidas que restrinjam a publicidade de jogos de azar nas redes sociais e sugeriu a proibição da participação de influenciadores em campanhas do setor.
Parlamentares elogiam e prometem pressão sobre empresas
A postura firme e embasada do padre foi elogiada por diversos senadores da CPI, que reforçaram a importância de convocar os donos das plataformas de apostas para prestarem esclarecimentos. A comissão já ouviu nomes como Virginia Fonseca e Rico Melquiades, e ainda há 18 influenciadores na lista de futuras oitivas.
A participação de Patrick Fernandes trouxe novo fôlego aos trabalhos da CPI, ampliando o debate para além das redes sociais e destacando os danos sociais, psicológicos e morais associados à indústria das apostas online.