“Os Infiéis”: a Fé como escada para o poder dos Barbalhos no Pará

A doutrina foi trocada por convênios. O evangelho, por convocações eleitorais. E o silêncio da igreja virou moeda.
Facebook
WhatsApp

No Pará, a fé virou plano de governo. A família Barbalho, símbolo de uma dinastia política que há décadas domina o estado, transformou o Evangelho em instrumento de poder e a Assembleia de Deus em engrenagem eleitoral.

Pastores tornaram-se delegados de voto. Cultos, reuniões de diretoria. Cada fiel, um número mobilizado nas urnas. A política não precisa mais convencer — apenas enviar ordens aos púlpitos certos.

A nova “igreja-estado”

A Convenção da Assembleia de Deus, com ramificações em cidades como Tucuruí e Marabá, funciona como um ministério informal. Sales Batista, vice-presidente da convenção, é apontado como peça-chave dessa estrutura silenciosa: um braço do palácio com controle absoluto da fé e submissão do povo. A doutrina agora é clara: “não tocar no ungido” — mesmo que o ungido caminhe de mãos dadas com licitações duvidosas e contratos milionários.

Exemplos de contratos e silêncio conveniente

Em Tucuruí, uma policlínica foi alugada por R$ 140 mil mensais, somando R$ 1,68 milhão ao ano pagos à Construtora Cruzeiro do Sul — enquanto o povo adoece sem atendimento digno. Em paralelo, R$ 36 milhões foram destinados ao ISSAA, que terceiriza a saúde pública sem licitação, sem transparência e sem qualquer reação vinda dos púlpitos. Um único remédio chegou a custar R$ 764 mil, sem disputa, sem pudor — mas com a bênção do silêncio.

Culto e gabinete: sem fronteiras

Os infiéis, como chamados no material divulgado, não pregam mais o Reino dos Céus. Pregam o Reino dos Barbalhos. O culto virou extensão do gabinete. A fé, moeda política. A Assembleia, trincheira do governador. Helder Barbalho comanda esse sistema onde contratos, orações e votos se cruzam no mesmo altar.

Críticos dentro da igreja são isolados. Igrejas que ousam divergir são sufocadas. A nova boa-nova não é segundo Mateus nem Paulo — é segundo Helder: contrato, convênio e convicção cega.

Consequência: silêncio e caos social

Enquanto os contratos seguem, as filas nos hospitais crescem. A saúde falha. A educação desaparece. Mas o povo reza. E aceita. Porque a estrutura doutrinária já ensinou que resistir é pecado.

A promessa de milagre substituiu a cobrança por justiça. A Assembleia de Deus foi cooptada. Não por heresia — mas por conveniência. Por cargos. Por poder. Por medo.

Nos acompanhe no WhatsApp

Siga o Canal PBS nas Redes