O governo federal prevê para 2026 um orçamento de R$ 17,9 bilhões destinado às universidades federais e às agências de fomento à ciência — o que representa apenas 53% do valor aplicado em 2014, já considerando a inflação. Segundo o Observatório do Conhecimento, o cenário expõe um desmonte progressivo da educação superior pública no Brasil.
Em termos reais, o valor atual equivale a praticamente metade do que foi investido há 12 anos, quando o total destinado às instituições federais chegava a R$ 32,5 bilhões. Enquanto o número de universidades cresceu nos últimos anos, o aumento previsto para 2026 é irrisório: apenas 0,12%. A consequência é óbvia — laboratórios fechando, projetos parados e jovens pesquisadores desistindo da carreira acadêmica.
A professora Mayra Goulart, da UFRJ, coordenadora do estudo, alerta:
“As universidades estão cada vez mais dependentes de emendas parlamentares e perdendo a capacidade de investir e inovar.”
O chamado orçamento discricionário, usado para manter serviços básicos como limpeza, segurança, bolsas e materiais, caiu para R$ 7,85 bilhões, 55% menor que em 2014.
Já os investimentos em infraestrutura, fundamentais para pesquisa e expansão, despencaram para R$ 335,9 milhões — apenas 5,6% do que era aplicado há 11 anos.
O impacto no Pará: universidades no limite
O Pará é um dos estados mais afetados por esse retrocesso. A UFPA, UFOPA, UFRA e UNIFESSPA vivem sob forte restrição orçamentária, tentando manter campi espalhados por regiões distantes e com alto custo logístico.
A UFPA, maior universidade da Amazônia, relatou déficit de R$ 19 milhões em 2023 apenas para despesas básicas.
Na Unifesspa, que atende o sul e sudeste do estado — incluindo cidades como Marabá, Xinguara e Canaã dos Carajás —, cortes ameaçam programas de extensão e laboratórios essenciais para cursos de engenharia e ciências ambientais.
A UFRA, com sede em Belém e campi em municípios como Parauapebas, também enfrenta o sucateamento de estruturas e atraso em bolsas de pesquisa.
As universidades federais do Pará são pilares de formação e inovação na Amazônia. A queda de recursos ameaça diretamente projetos de biotecnologia, manejo florestal e pesquisa em energias renováveis, que já colocaram o estado em destaque nacional.
Um governo que corta o futuro
O desmonte da educação federal é fruto direto da política de austeridade e da falta de prioridade do governo central.
Enquanto o país gasta bilhões com emendas políticas e fundo eleitoral, o investimento em ciência, tecnologia e ensino superior derrete.
O Pará, estado com desafios sociais e ambientais únicos, paga o preço mais alto: menos pesquisa, menos oportunidades e mais desigualdade.
O resultado é um retrato cruel: laboratórios sucateados, pesquisas interrompidas, evasão estudantil e fuga de cérebros.
Conclusão
A ciência brasileira, que um dia foi orgulho nacional, hoje luta para não desaparecer.
Se o governo não reverter esse quadro, o país mergulhará em uma década perdida para a inovação — e o Pará, com suas universidades abandonadas e talentos desamparados, será o símbolo desse fracasso anunciado.



