O preço da hipocrisia: os barcos-hotéis da COP30

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A Conferência do Clima da ONU (COP30), que será sediada em Belém do Pará, foi anunciada como um marco histórico para o meio ambiente e para o Brasil. No entanto, o que deveria simbolizar compromisso e ação efetiva diante da crise climática mundial, começa a se desenhar como um espetáculo de contradições e promessas vazias. Por trás do discurso de sustentabilidade, há uma série de problemas logísticos, sociais e éticos que colocam em dúvida a verdadeira finalidade do evento.

Um palco montado sobre desigualdades

A escolha de Belém como sede foi vendida como uma forma de valorizar a Amazônia, mas a realidade tem mostrado o oposto. O aumento abusivo dos preços de hospedagem, as obras emergenciais e a exclusão de populações locais das discussões expõem a desigualdade social e econômica que o evento pretende, em teoria, combater. O próprio governo estadual tem sido criticado por adotar políticas de “maquiagem verde”, promovendo ações de limpeza e remoção de moradores de rua nas áreas centrais para construir uma imagem artificial de cidade-modelo.

O discurso e a prática não se encontram

Enquanto os líderes mundiais preparam seus discursos sobre descarbonização e proteção ambiental, países e corporações continuam ampliando suas atividades de exploração de petróleo, mineração e desmatamento. O Brasil, anfitrião do evento, não escapa da crítica: medidas recentes do governo federal e do Congresso têm flexibilizado regras ambientais e licenças, abrindo brechas para o avanço de empreendimentos que ameaçam ecossistemas inteiros.

O preço da hipocrisia: os barcos-hotéis da COP30

Entre os símbolos mais gritantes dessa contradição estão os barcos-hotéis contratados para hospedar parte das delegações internacionais e servidores. Essas embarcações, que atracarão no porto de Belém durante o evento, são conhecidas por seu alto consumo de diesel e emissão significativa de poluentes atmosféricos e sonoros. Enquanto o discurso oficial prega a sustentabilidade e a redução de carbono, os motores desses navios funcionarão ininterruptamente, queimando milhares de litros de combustível fóssil diariamente para manter energia, ar-condicionado e serviços de luxo.

O contraste é brutal: em uma cidade onde bairros inteiros convivem com esgoto a céu aberto e falta de saneamento, o governo opta por investir milhões em estruturas flutuantes altamente poluentes — uma decisão que escancara o abismo entre o marketing ambiental e a realidade amazônica. Além disso, especialistas alertam que o despejo inadequado de resíduos e o impacto da ancoragem dessas embarcações podem afetar diretamente o ecossistema fluvial do rio Guamá, já pressionado pela poluição urbana.

O protagonismo esquecido da Amazônia

A COP30 poderia ser o momento de dar voz às populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas que vivem diariamente os efeitos das mudanças climáticas e da destruição ambiental. No entanto, há pouca garantia de que essas comunidades terão espaço real de fala e decisão. A agenda parece mais voltada a acordos diplomáticos e interesses corporativos do que ao debate sobre justiça ambiental e preservação.

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