Durante o Círio de Nazaré de 2025, o maior evento religioso do Norte do Brasil, a fé e a devoção do povo paraense foram ofuscadas por uma nova polêmica: o uso descarado da celebração como vitrine política para o governador Helder Barbalho (MDB) e sua vice, Hana Ghassan. O episódio reacendeu críticas sobre a mistura entre religião e poder — e o que deveria ser um ato de fé acabou se tornando um palco de autopromoção eleitoral.
Abanadores da Fé: Propaganda em Meio à Procissão
Em meio à multidão que acompanhava a procissão, fiéis foram surpreendidos com a distribuição de abanadores com a imagem e o nome da vice-governadora Hana Ghassan. O material, entregue gratuitamente, trazia a identidade visual de campanha e despertou reações imediatas. Muitos consideraram a ação inadequada, abusiva e desrespeitosa com o caráter religioso do evento, que homenageia exclusivamente Nossa Senhora de Nazaré.

Juristas e analistas políticos alertam que o gesto pode configurar propaganda eleitoral antecipada e uso indevido da fé popular. Em um evento onde a devoção deveria estar no centro, a presença de símbolos políticos foi vista como uma tentativa calculada de associar imagem pessoal a um símbolo religioso para colher dividendos eleitorais.
Hana Ghassan: Aposta Política Embalada em Fé
A vice-governadora, apontada como possível sucessora de Helder Barbalho nas eleições de 2026, tem usado eventos públicos e religiosos para consolidar seu nome entre os eleitores. A estratégia é clara: transformar popularidade institucional em capital político, aproveitando-se de espaços que tradicionalmente atraem grandes multidões e comoção popular.
O problema, segundo críticos, é que essa “estratégia de fé” ultrapassa o limite ético. Misturar política com religião, ainda mais em um estado de forte devoção como o Pará, é visto como uma forma de manipular a crença popular em benefício de projetos eleitorais pessoais.
Helder Barbalho e o Uso Político da Religião
Helder Barbalho também não escapou das críticas. Durante o Círio, o governador discursou dentro da Catedral de Nazaré, transformando o altar em tribuna política. O gesto reforçou a percepção de que o governo estadual explora eventos religiosos para marketing pessoal e eleitoral, esvaziando o significado espiritual das cerimônias.
Do Círio às Igrejas Evangélicas: Uma Fé Eleitoralmente Rentável
A instrumentalização da fé pelo grupo político de Helder não se restringe ao catolicismo. De acordo com denúncias divulgadas, o governador também atua nos bastidores de igrejas evangélicas, especialmente por meio da COMIEADEPA (Convenção Interestadual de Ministros e Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Pará), liderada por Océlio Nauar de Araújo.

Segundo as revelações, Océlio seria um “operador político” de Helder dentro das Assembleias de Deus, garantindo bases eleitorais para o grupo Barbalho. Em troca, o governo manteria relações de conveniência com lideranças religiosas, convertendo templos em palanques e púlpitos em instrumentos de mobilização eleitoral.
O próprio Helder, em diversas ocasiões, já discursou em templos da Assembleia de Deus, principalmente em anos de eleição — um padrão que tem se repetido e escancarado a mistura entre religião, poder e votos.
Crítica Social: Deus Como Cabo Eleitoral
O uso da fé como instrumento de manipulação política é uma das práticas mais nocivas ao debate público e à democracia. Quando igrejas e romarias se tornam palcos de autopromoção, o espaço sagrado perde seu valor espiritual e vira moeda de troca eleitoral.
“Antes de acreditarem em Deus, acreditam no poder e no dinheiro”, diz a nota do MBL Pará, em crítica direta ao grupo político que domina o estado. “E nada melhor do que usar o próprio Deus como cabo eleitoral.”
O alerta é simples e direto: a fé não deve ser usada para conquistar votos. O templo, o altar e a procissão pertencem ao povo — não aos políticos.
Entre a Devoção e o Marketing
O Círio de Nazaré 2025 deveria ser um símbolo de fé, união e devoção popular. No entanto, acabou sendo lembrado como mais um capítulo da exploração política da religião no Pará.
Enquanto o povo reza, o poder posa. E enquanto milhares caminham em devoção, Helder Barbalho e Hana Ghassan caminham em direção às urnas — usando a fé como combustível de campanha.