A transferência da Amazonas Energia para a Âmbar Energia, acendeu um alerta sobre a forma como negócios bilionários continuam sendo conduzidos no país. A decisão, autorizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e pelo governo Lula, ocorreu sem licitação, em um processo questionado por especialistas, parlamentares e órgãos de controle.
A decisão do governo Lula e da ANEEL de entregar a Amazonas Energia à Âmbar Energia, empresa do grupo J&F dos irmãos Joesley e Wesley Batista, sem licitação, já causaria indignação por si só. Mas o escândalo ganha contornos ainda mais graves quando lembramos quem são os novos donos: empresários com um histórico marcado por corrupção, favorecimento político e bilionários prejuízos ao Brasil.
O acordo envolve cifras pesadas: a população brasileira deve arcar com cerca de R$ 14 bilhões ao longo dos próximos 15 anos, embutidos nas tarifas de energia elétrica. Na prática, enquanto empresários próximos ao poder assumem o comando de distribuidoras estratégicas, o consumidor paga a conta com tarifas cada vez mais altas.
A justificativa oficial para a entrega sem licitação foi a dívida de aproximadamente R$ 12 bilhões da Amazonas Energia. Mas críticos questionam: por que um grupo com tantas condenações e suspeitas foi o escolhido, sem concorrência pública, para assumir um ativo estratégico?
Operação sem concorrência
A operação não passou por um processo público de licitação, o que alimenta as críticas de que houve favorecimento e ausência de transparência. Segundo a ANEEL, a justificativa seria o alto endividamento da Amazonas Energia, estimado em R$ 12 bilhões, e a necessidade de uma solução “emergencial” para evitar o colapso no fornecimento.
O governo se amparou em uma medida provisória e em decisões judiciais que autorizaram a transação direta. Críticos, no entanto, sustentam que a lei de licitações não pode ser contornada para favorecer grupos empresariais, especialmente em setores estratégicos como o de energia elétrica.

Quem são os irmãos Batista?
Os nomes de Joesley e Wesley Batista ficaram conhecidos nacionalmente a partir de 2017, quando explodiu a delação premiada da JBS na Operação Lava Jato. Desde então, os escândalos envolvendo o grupo J&F se acumulam:
- Delação premiada e propinas bilionárias
Os Batista admitiram o pagamento de propinas a centenas de políticos e agentes públicos para obter favores e vantagens em contratos. Uma das gravações mais famosas envolveu Joesley em conversa com Michel Temer no Palácio do Jaburu, na qual mencionava a compra de silêncio de Eduardo Cunha. - “Joesley Day” e manipulação do mercado
Às vésperas da divulgação da delação, os irmãos teriam operado no câmbio e na bolsa de valores antecipando os efeitos do escândalo, lucrando cerca de R$ 240 milhões. A manobra ficou conhecida como “Joesley Day” e foi alvo de investigações da Polícia Federal e da CVM. - Favorecimento em operações com o BNDES
Durante anos, a JBS recebeu empréstimos bilionários do BNDES e da Caixa com condições especiais, permitindo aquisições que transformaram a empresa na maior processadora de carnes do mundo. Deputados apontam que a maior parte dessas operações foi cercada de irregularidades. - Omissões e mentiras nas delações
Mesmo após firmarem acordo de leniência, os Batista foram acusados de omitir informações relevantes e, por isso, parte das delações foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal.
Quem ganha e quem perde
A Âmbar Energia, que já atua no setor, passa a controlar a distribuidora que atende milhões de amazonenses. O grupo J&F, dos irmãos Batista, voltou a crescer no setor elétrico depois de anos de desgaste com escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato.
Enquanto isso, o consumidor brasileiro — e não apenas o amazonense — será impactado pelo negócio. Os custos bilionários da operação serão repassados para as tarifas via encargos setoriais, como a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC).
Na prática, quem liga o interruptor em casa será o financiador da manobra política e empresarial.
Reações e suspeitas
Órgãos como o Ministério Público Federal (MPF) e a Advocacia-Geral da União (AGU) já acompanham o caso, e especialistas em regulação do setor elétrico alertam para o precedente perigoso: se normalizar a entrega de empresas endividadas sem licitação, outros ativos estratégicos podem ser negociados da mesma forma.
Além disso, parlamentares da oposição apontam que o governo Lula repete a prática de alianças com grandes empresários, em detrimento da transparência e do interesse público. “Enquanto amigos do poder recebem distribuidoras, o povo sofre com tarifas cada vez mais altas”, criticou um deputado em sessão recente.
Impacto social direto
O efeito dessa operação será sentido principalmente pela população mais pobre, que já destina boa parte da renda ao pagamento de contas básicas. Em estados como o Amazonas, onde o custo de geração já é elevado por causa da dependência de termelétricas, o reajuste tarifário tende a ampliar a desigualdade social e o risco de inadimplência.
O caso da Amazonas Energia escancara o conflito entre o discurso político e a prática administrativa. O governo que prega transparência e defesa do consumidor avaliza um negócio bilionário em silêncio, sem licitação e com repasse direto ao bolso da população.
Se a operação for consolidada sem revisão ou fiscalização firme, o Brasil abre um perigoso precedente: normalizar a transferência de patrimônio estratégico nacional para grupos privados poderosos, enquanto o povo continua pagando tarifas abusivas e vendo serviços essenciais se transformarem em moeda de troca política.
Pergunta que não cala: como esperar tarifas justas e transparência de um setor entregue, sem disputa pública, a empresários que já confessaram transformar corrupção em modelo de negócio?