Durante sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, no dia 28 de maio de 2025, o governador Helder Barbalho (MDB) discursou em defesa da PEC da Segurança Pública, proposta pelo governo federal. A ideia é unificar forças e padronizar a atuação nacional contra o crime organizado.
Em seu pronunciamento, Helder afirmou que “a situação do Rio de Janeiro é um reflexo do domínio territorial que o crime organizado exerce e que coloca a sociedade inteira de refém”, defendendo uma “grande junção de forças nacionais” para enfrentar o problema.
Mas a contradição é gritante: enquanto o governador prega integração e força nacional contra o crime em Brasília, o Pará enfrenta há anos um cenário idêntico — e cada vez mais grave — dentro do próprio território, especialmente em Belém e Ananindeua, onde facções comandam bairros inteiros e impõem leis próprias.
Pesquisas revelam o avanço das facções no Pará
Estudos recentes da Universidade Federal do Pará (UFPA), conduzidos pelo pesquisador Aiala Colares, revelam a presença consolidada do Comando Vermelho (CV) nas periferias da Região Metropolitana de Belém.
O artigo “Dinâmicas do Narcotráfico e Controle Territorial do Comando Vermelho nas Periferias de Belém” (2025), publicado na Revista GeoAmazônia, apresenta mapas detalhando os bairros dominados pela facção, incluindo:
- Guamá
- Terra Firme
- Jurunas
- Condor
- Cremação
- Sacramenta
- Cabanagem
- Benguí
- Tapanã
- Barreiro
- Paracuri

Em Ananindeua, o domínio se estende a Aurá, Águas Lindas, Paar e Curuçambá.
Essas áreas estão sob o que o pesquisador chama de “territorialização perversa do tráfico”, em que o Estado perdeu o controle e a facção passou a determinar regras, aplicar punições, cobrar taxas e até substituir a presença policial com seu próprio “código de conduta”.
“O Comando Vermelho atua como um poder paralelo, estabelecendo regras e controle social sobre comunidades inteiras”, explica Colares.
Um Estado refém e facções fortalecidas
Além do CV, outras facções como o Comando Classe A e a Família Terror do Amapá (FTA) expandem seu domínio no interior do estado. Reportagens da Amazônia Real (2025) apontam disputas territoriais em pelo menos 12 municípios paraenses.
Denúncias da Agência Pública também revelaram que representantes da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) chegaram a negociar com líderes de facções dentro dos presídios, oferecendo regalias em troca de tranquilidade — um retrato da fragilidade institucional do sistema de segurança estadual.
Dados expõem contradições
Apesar do discurso oficial de “combate e investimento recorde”, o Pará segue entre os estados com maior número de homicídios da Região Norte, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Entre 2020 e 2024, a violência armada cresceu justamente nas áreas controladas pelas facções mapeadas pela UFPA — coincidência que desmonta o discurso otimista do governo.
As taxas de letalidade policial e mortes violentas intencionais também seguem entre as mais altas do país. O Estado, que deveria ser o protagonista do combate, tem se mostrado incapaz de reconquistar o território que perdeu.
Discurso político, prática ineficiente
Ao defender a PEC da Segurança e propor uma “união nacional contra o crime”, Helder Barbalho tenta se colocar como liderança nacional da segurança pública — mas a realidade local contradiz sua retórica.
O governador fala em combater o crime em todo o Brasil, enquanto no Pará, as facções impõem toque de recolher, cobram taxas e controlam o comércio, transformando bairros em zonas sem Estado.
A defesa da PEC da Segurança soa como mais uma tentativa de projeção política nacional, e não de compromisso real com a segurança pública.
Enquanto o governador fala em Brasília sobre o Rio de Janeiro, Belém sangra sob domínio das facções, e o Estado segue sem comando efetivo sobre seus próprios territórios.
Antes de propor unificação de forças nacionais, Helder Barbalho precisa unificar o próprio Pará, onde o crime já se organizou há muito mais tempo do que o discurso admite.
Veja o artigo DINÂMICAS DO NARCOTRÁFICO E CONTROLE TERRITORIAL DO COMANDO
VERMELHO NAS PERIFERIAS DE BELÉM



