Em meio a uma crise de abastecimento que castiga moradores de Canaã dos Carajás, uma velha conhecida das investigações do GAECO segue lucrando alto com recursos públicos da Prefeitura Municipal e do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE). A RGS Engenharia EIRELI-EPP, citada na denúncia do Ministério Público por integrar o esquema de fraudes e propinas na prefeitura, recebeu mais de R$ 15,6 milhões apenas em 2025, segundo registros oficiais de despesas da Prefeitura e do SAAE.
A empresa aparece como beneficiária de contratos milionários para “obras e instalações” e “reparos e manutenção elétrica de poços de captação de água”, justamente os sistemas que deveriam garantir o abastecimento à população — que, na prática, enfrenta torneiras secas, racionamento e instabilidade no fornecimento.
De acordo com os documentos, a RGS faturou repetidamente com o SAAE em serviços de “reparos, ampliação e monitoramento dos sistemas elétricos dos poços de captação”, com empenhos de até R$ 427 mil por vez, e pagamentos frequentes de março a novembro de 2025. Paralelamente, recebeu mais de R$ 3,5 milhões em obras de energia e R$ 1,6 milhão para o chamado “Parque Linear / Parque de Eventos”, ambos financiados pela prefeitura.
A ironia é que, enquanto moradores enfrentam falta d’água e poços parados, o dinheiro do saneamento continua irrigando contas de empresas ligadas a um escândalo de corrupção. A RGS aparece nominalmente na denúncia do GAECO por envolvimento em licitações direcionadas e pagamento de propinas de até 6% a 10% sobre contratos públicos, sob comando de Roberto Andrade Moreira(Ex-secretário de Governo, denúncias apontam que ele deixou o cargo por conta do escândalo, mas ainda assim indicou o atual secretário.), e apontado como líder da organização criminosa que operava dentro da prefeitura.
O caso expõe o abismo entre o discurso de “grandes investimentos” e a realidade dos bairros de Canaã, onde famílias continuam sem água enquanto empresas denunciadas seguem premiadas com novos contratos e aditivos.
O resultado é um retrato claro de prioridades invertidas: água falta, mas dinheiro público nunca.
O Contexto da Denúncia do GAECO
A denúncia do Ministério Público que investiga a ORCRIM em Canaã dos Carajás aponta para um esquema de desvio de recursos públicos por meio de diversos crimes graves:
- Organização Criminosa: Envolvendo agentes políticos, servidores públicos e empresários, em operação desde pelo menos 2014.
- Fraude em Licitações e Corrupção: O modus operandi incluía o direcionamento de certames, simulação de concorrência, geração de sobrepreço e o pagamento de propinas que variavam entre 6% e 10% do valor bruto dos contratos.
- Lavagem de Capitais: Para ocultar a origem dos valores.



O faturamento de 2024 — um ano antes — mostra que o negócio com o poder público já era altamente lucrativo. A mesma RGS Engenharia embolsou R$ 24,1 milhões em 2024, também com contratos de obras e serviços de engenharia, incluindo manutenções elétricas do SAAE e grandes projetos como o “Parque Linear” e a “rede de energia no S11D”
Ou seja, mesmo denunciada por desviar dinheiro público, a empresa não só manteve os contratos como ampliou os ganhos no ano seguinte.



