Doentes, mas lucrativos: A indústria da corrupção na saúde do Pará

As operações Para Bellum, Reditus e S.O.S. revelaram um padrão: enquanto pacientes morriam sem leitos, contratos milionários eram assinados com empresas sem sede e sem funcionários. A saúde virou pretexto para enriquecimento ilícito.
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Durante a pandemia da Covid-19, o Estado do Pará não apenas enfrentou uma grave crise sanitária, mas também protagonizou um dos maiores escândalos de corrupção na área da saúde pública no Brasil. Sob o pretexto da emergência, contratos milionários foram assinados às pressas com Organizações Sociais (OSs), muitas sem estrutura, funcionários ou sequer sede física. O resultado: prejuízo aos cofres públicos, equipamentos inservíveis e serviços precários à população.

Operação Para Bellum: respiradores inúteis por R$ 50 milhões

Em um dos casos mais emblemáticos, a Secretaria de Saúde do Pará comprou, por R$ 50,4 milhões, 152 respiradores da China — todos pagos antecipadamente. Quando os aparelhos chegaram, com atraso, foi constatado que não serviam para o tratamento da Covid-19. A falha técnica, ignorada pela gestão estadual, deu origem à Operação Para Bellum, nome latino que significa “preparar-se para a guerra”. No caso paraense, a guerra foi contra a competência.

Operação Reditus: OSs de fachada e contratos fantasmas

Na segunda fase do escândalo, batizada de Operação Reditus, a Polícia Federal revelou que diversos contratos com OSs foram assinados com empresas sem qualquer operação real. Algumas sequer tinham sede — apenas caixas postais em papelarias. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 800 milhões em bens dos envolvidos. Esses contratos, em tese, serviriam para comprar equipamentos hospitalares e salvar vidas, mas acabaram servindo para inflar contas bancárias de empresários e agentes públicos.

Operação S.O.S.: lavagem de dinheiro e organização criminosa

A terceira fase veio em setembro de 2020, com a Operação S.O.S., que cumpriu 64 mandados de prisão e 237 de busca e apreensão. As acusações incluíam fraude em licitação, falsidade ideológica, peculato, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Um verdadeiro roteiro de crime institucionalizado em meio à maior crise sanitária do século.

R$ 1,2 bilhão em contratos sob suspeita

Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), entre 2019 e 2020, apenas quatro OSs receberam R$ 1,2 bilhão, dos quais R$ 310 milhões foram pagos em 2020. Valores que poderiam bancar a construção de hospitais, compra de respiradores e pagamento de profissionais da saúde. Mas, como apontam as investigações, os recursos evaporaram em “quarteirizações” e serviços inexistentes.

Corrupção como método, não exceção

A corrupção se consolidou como método de gestão. A pandemia foi apenas a desculpa perfeita. A saúde pública virou palco de um “reality show amazônico” com dinheiro do SUS como prêmio final. O povo? Segue doente. Mas o esquema, esse sim, continua lucrativo.

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