Em uma cena que mais parece saída de um filme de comédia policial ruim, mas que revela o desespero de quem se acha acima da lei, a Polícia Federal flagrou nesta terça-feira (16/12/2025) celulares sendo arremessados pela janela do apartamento funcional do deputado federal Antônio Leocádio dos Santos (MDB-PA), mais conhecido pelo apelido revelador de “Antônio Doido”. Os aparelhos foram encontrados no gramado do prédio em Brasília, registrados em vídeo pelos agentes, que também apreenderam dinheiro em espécie – e até caixas de vinho e relógios de luxo – dentro do imóvel.
A ação faz parte da Operação Igapó, deflagrada pelo STF (com autorização do ministro Flávio Dino) para desmantelar uma organização criminosa acusada de corrupção, lavagem de dinheiro, fraudes em licitações e até corrupção eleitoral. Segundo a PF, o esquema desviava verbas públicas de emendas parlamentares e recursos estaduais do Pará por meio de licitações fraudadas, com o dinheiro sendo usado para pagar propinas, ocultar patrimônio e, pasmem, financiar campanhas políticas.
Não é a primeira vez que o nome de Antônio Doido aparece em escândalos envolvendo milhões em espécie. Em 2024, um policial militar ligado ao deputado foi preso sacando quase R$ 5 milhões – suspeita de caixa 2 eleitoral. Em janeiro de 2025, um assessor foi flagrado com mais R$ 1,1 milhão. Agora, com buscas em seu apartamento, o parlamentar recorreu ao método mais primitivo possível: jogar as provas pela janela. Uma tentativa patética de obstrução de justiça que, felizmente, falhou miseravelmente, pois os celulares foram recuperados.
Esse episódio não é isolado. Ele expõe, mais uma vez, como parte da classe política brasileira trata o dinheiro público como patrimônio pessoal: fraudes em licitações bilionárias (incluindo contratos suspeitos ligados à COP30), uso de laranjas (empresas no nome da esposa e de aliados), arregimentação de policiais militares para saques milionários e, no fim, o pânico quando a PF bate à porta.
Enquanto o cidadão comum luta com inflação, falta de serviços básicos e impostos altos, deputados como Antônio Doido – em seu primeiro mandato, após ser prefeito e já declarado inelegível por abuso de poder econômico – parecem viver em outro mundo: apartamentos funcionais pagos pelo erário, dinheiro vivo escondido e tentativas desesperadas de apagar rastros.
A Operação Igapó é um passo importante, mas a pergunta que fica é: quantos mais “Doidos” ainda circulam impunes pelo Congresso, desviando emendas que deveriam ir para saúde, educação e infraestrutura? A sociedade brasileira merece mais do que operações pontuais – precisa de reforma política profunda para acabar com essa cultura de corrupção que envergonha o país. Que essa cena ridícula dos celulares voadores sirva, ao menos, como alerta: a era da impunidade está, aos poucos, chegando ao fim.
De prefeito no Pará não reeleito a deputado federal
Antônio Doido tem 49 anos e é natural de Dom Macedo Costa, na Bahia. Apesar disso, foi no Pará onde fez carreira política. Em 2022, ele foi eleito como deputado federal com 126.535 votos.
O político também já foi prefeito de São Miguel do Guamá, no interior Pará, eleito em 2016, representando o PSDB, com 9.639 votos. Ele tentou a reeleição em 2020, mas obteve 15.102 votos e não conseguiu um novo mandato.
Já como deputado pelo MDB, Antônio se candidatou à prefeitura de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, mas ficou em segundo lugar, sem chance a segundo turno, com 23.091 votos.
Em janeiro deste ano, o assessor parlamentar de Antônio Doido foi preso em flagrante pela PF com R$ 1,1 milhão em dinheiro vivo, logo após o saque em um banco no Umarizal, centro de Belém.
Segundo informações divulgadas pela Justiça Federal, a prisão ocorreu após uma denúncia anônima que informava que o dinheiro seria retirado da conta de uma empresa e teria como finalidade o pagamento de propinas para servidores públicos.
A corrupção foi configurada no momento em que o representante comercial de uma empresa, envolvida em diversas licitações com órgãos públicos, repassou o dinheiro ao assessor parlamentar, um servidor público.
Deputado está inelegível
Há duas semanas, a Justiça Eleitoral tornou Antônio Doido inelegível por oito anos pela prática de abuso de poder político e econômico nas eleições municipais para prefeito em 2024. Decisão cabe recurso.
Segundo o Tribunal Regional do Pará (TRE-PA), o juiz eleitoral concluiu que o:




