Parauapebas vive uma reviravolta política que expõe a incoerência e contradição de seu atual prefeito, Aurélio Goiano. O homem que, enquanto vereador, se notabilizou por lives inflamadas acusando empresários e denunciando supostas quadrilhas instaladas na Prefeitura — hoje, no comando do Executivo, celebra contratos vultosos com os mesmos alvos de suas críticas.
De confrontador a contratante
Durante sessões da Câmara Municipal, Aurélio Goiano usava o microfone e suas redes sociais para denunciar o empresário conhecido como “Branco da WHITE”, dono da empresa White Tratores Serviços de Terraplenagem LTDA. Chegou a declarar abertamente que “dinheiro nenhum” o comprava e acusou Branco de estar “roubando Parauapebas” na gestão do ex-prefeito Darci Lermen.
A fala pública do então vereador era clara: existia, segundo ele, uma “quadrilha criminosa instalada na Prefeitura, sugando os recursos públicos e beneficiando empresários aliados”.
No entanto, já como prefeito eleito em 2024 e empossado em 2025, Aurélio Goiano demonstrou uma guinada inesperada. Segundo dados do Portal da Transparência, a gestão de Aurélio já pagou R$ 359.605,84 à White Tratores em 2025, referentes à construção da 1ª etapa do prédio da UEPA em Parauapebas, por meio da Secretaria Especial de Governo.
Além disso, o SAAEP — autarquia vinculada ao município — pagou mais de R$ 6,9 milhões à mesma empresa (WHITE TRATORES SERVIÇOS E COMÉRCIO LTDA), com contratos realizados durante o atual exercício de 2025. As notas de empenho mostram aluguéis de caminhões pipa, tratores e serviços que somam valores milionários, todos firmados com dispensa de licitação ou pregões simplificados.
O mesmo sistema que jurou combater
Não bastasse a reaproximação com figuras antes denunciadas, Aurélio se aliou politicamente a nomes que trabalharam abertamente pela sua cassação. É o caso do vereador Léo Márcio, hoje líder do governo na Câmara, que nos bastidores foi um dos principais articuladores da cassação do mandato de Aurélio em legislaturas passadas.
A pergunta que paira no ar é direta: o que mudou? Se antes havia uma “quadrilha”, como o próprio Aurélio declarou em alto e bom som, por que agora os contratos continuam com os mesmos nomes, com o mesmo modus operandi e sem qualquer investigação ou rompimento?
Empresário Branco e denúncias do GAECO
Como se não bastasse a incoerência política, pesa sobre o empresário Branco da WHITE uma denúncia formal do Ministério Público do Estado do Pará, em conjunto com o GAECO, por integrar uma organização criminosa atuante em Canaã dos Carajás.
Segundo a denúncia, essa organização cobrava entre 6% e 10% de propina sobre contratos públicos firmados com a prefeitura da cidade vizinha. Branco é citado diretamente como um dos operadores do esquema, tendo acesso privilegiado a informações de licitações e supostamente influenciando decisões para direcionamento contratual.
A atuação da mesma empresa em Parauapebas, agora sob a gestão de Aurélio Goiano — que sempre se posicionou como o “inimigo da corrupção” — acende um alerta grave: será que a quadrilha que ele dizia combater foi, na verdade, incorporada ao seu governo?
O que está em jogo
Se Aurélio dizia que a gestão passada era criminosa e os contratos eram fraudulentos, por que mantém os mesmos contratos, com os mesmos fornecedores, com os mesmos aliados? E mais: se havia uma quadrilha, como ele mesmo afirmou, o que o impede de ser hoje o chefe dessa mesma organização?
A incoerência é gritante. O prefeito traiu o voto de protesto que o elegeu. As promessas de fiscalização deram lugar a blindagem institucional. E o “sistema” que jurava combater é hoje a engrenagem que movimenta sua gestão.
Conclusão
O discurso anticorrupção virou marketing. A retórica de “combate ao sistema” cedeu lugar a acordos com os mesmos que antes eram chamados de criminosos. Aurélio Goiano, eleito sob a promessa de romper com o passado sombrio da política de Parauapebas, se vê agora como protagonista de um enredo que ele mesmo denunciava. E isso, em política, tem nome: traição à confiança popular.
Enquanto isso, empresas suspeitas continuam faturando alto e figuras envolvidas em escândalos seguem com contratos públicos milionários — desta vez, chancelados por quem prometeu varrer a corrupção da cidade.
Aurélio Goiano chegou à prefeitura montado no discurso do “combate à corrupção”, vendendo-se como inimigo da velha política. Mas os dados e documentos mostram: o velho sistema não caiu. Apenas trocou de comandante.
O povo de Parauapebas, que apostou em mudança, tem o direito — e o dever — de cobrar, fiscalizar e denunciar. Porque se não for o cidadão a defender o dinheiro público, quem será?
Fonte dos dados
Todos os valores foram extraídos diretamente dos documentos públicos de despesas pagas pela Prefeitura de Parauapebas. Os arquivos utilizados nesta apuração foram:


