Em meio a crescentes denúncias de fraudes em licitações e contratos, a Prefeitura Municipal de Canaã dos Carajás, sob a gestão da prefeita Josemira Gadelha, vê-se no centro de um escândalo que movimenta milhões dos cofres públicos e expõe a inércia do poder executivo local. Documentos oficiais revelam que duas empresas-chave, STARKER BR TRANSPORTES LTDA e LOCAN – LOCAÇÃO DE MAQUINAS E VEICULOS LTDA, teriam lucrado mais de R$ 244 milhões em contratos desde 2021. No epicentro das investigações, surge o nome de Gilvan da Silva Pinheiro, suposto líder de uma organização criminosa que operava no município.
Essas empresas, além de operarem contratos simultâneos com múltiplas secretarias, foram citadas em investigações como parte de um esquema de fraudes em licitações, uso de empresas laranjas, aditivos suspeitos e favorecimento sistemático.
O Papel de Gilvan da Silva Pinheiro e as Empresas Envolvidas
De acordo com a Denúncia do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), Gilvan da Silva Pinheiro, conhecido como “Gilvan da Van”, é apontado como um dos líderes de uma organização criminosa que atua em Canaã dos Carajás desde 2014, especializada em fraudar procedimentos licitatórios, principalmente no segmento de locação de veículos, máquinas e equipamentos. A denúncia detalha que, embora Pinheiro formalmente possua apenas a Canaã Transportes e Locações de Máquinas Ltda., ele “gere direta e ostensivamente” outras duas empresas por meio de “laranjas”: a LOCAN – Locação de Máquinas e Veículos Ltda. e a BR Serviços, Construções e Locações de Máquinas e Equipamentos – Eireli (atualmente denominada Starker BR Transportes Ltda.).

A investigação do MPPA indica que Gilvan da Silva Pinheiro e outros denunciados estariam envolvidos na manipulação de processos licitatórios, chegando a trocar mensagens sobre a autorização para participação em licitações e suas revogações quando as empresas do esquema não venciam.
Lucros Milionários na Gestão Josemira (2021-2025)
Os documentos de “Lista de despesas pagas” da Prefeitura de Canaã dos Carajás, analisados desde 2021, revelam cifras impressionantes pagas às empresas supostamente ligadas a Gilvan da Silva Pinheiro:
- STARKER BR TRANSPORTES LTDA: Entre 2021 e julho de 2025, a empresa recebeu um total de R$ 77.168.318,61. Os contratos incluem locação de transporte terrestre, remoção de pacientes em ambulâncias e serviços de sistema de informática.
- LOCAN – LOCAÇÃO DE MAQUINAS E VEICULOS LTDA: No mesmo período, a LOCAN faturou R$ 167.018.681,67. Os serviços abrangem locação de veículos, máquinas pesadas, caminhões e equipamentos para diversas finalidades, incluindo transporte escolar e preservação de vias.
Juntas, as duas empresas somam mais de R$ 244 milhões em despesas pagas pela prefeitura desde o início da gestão de Josemira Gadelha.
Relatórios do GAECO revelaram que parte dos contratos com a Starker envolvem fraudes em medições, serviços não prestados e propina estimada entre 6% a 10% dos valores. Anotações encontradas na casa do ex-secretário Roberto Andrade Moreira mostram que só no mês de fevereiro de 2024 foram arrecadados R$ 1,1 milhão em propina, e a empresa de Gilvan está diretamente ligada aos contratos citados.
O Enigma da Filiação Partidária e o Silêncio da Prefeita
Apesar do envolvimento direto de secretários, vereadores e empresários aliados em fraudes comprovadas e do comando da gestão sob a qual esses escândalos se aprofundaram, a prefeita Josemira Gadelha mantém um silêncio absoluto. Nenhuma sindicância foi aberta e nenhum dos investigados foi afastado.
Um ponto que levanta questionamentos é a suposta filiação de Gilvan da Silva Pinheiro ao partido da prefeita este ano. Gilvan não só seguiu ileso durante todo o escândalo, como agora se aproxima ainda mais do poder: em 2025, se filiou ao MDB, partido da prefeita. A filiação política pode ser interpretada como uma blindagem institucional, em vez de um distanciamento dos envolvidos, agravando ainda mais o cenário de conivência.
Silêncio que grita
Diante de tudo isso, Josemira Gadelha se mantém em silêncio absoluto. Nenhum secretário foi exonerado, nenhum vereador aliado foi repreendido e nenhum procedimento administrativo foi aberto para apurar as irregularidades. As decisões da prefeita sugerem mais do que omissão — revelam uma gestão cúmplice ou inerte frente a uma organização criminosa operando sob suas barbas.
A ausência de transparência e a falta de medidas concretas da administração municipal diante de denúncias de tamanha gravidade reforçam a necessidade de um acompanhamento rigoroso por parte dos órgãos de controle e da sociedade civil.
Conclusão
Enquanto servidores honestos assistem à deterioração dos serviços públicos e à impunidade dos privilegiados, os cofres do município continuam sendo drenados por contratos viciados, aditivos em série e uma estrutura que protege aliados ao invés de investigar culpados. Gilvan Pinheiro é hoje mais que empresário: é símbolo da fragilidade ética de uma gestão que deveria prestar contas — mas prefere fingir que nada está acontecendo.
A população de Canaã dos Carajás aguarda respostas e ações efetivas que garantam a probidade e a transparência na gestão dos recursos públicos.
Fonte: Denúncia do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e Lista de despesas pagas da Prefeitura de Canaã dos Carajás.










