No centro do maior escândalo de corrupção já denunciado no município de Canaã dos Carajás, está Roberto Andrade Moreira, ex-Secretário de Governo, apontado pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) como o líder de uma organização criminosa altamente estruturada que operava dentro da prefeitura.
A denúncia, feita pelo GAECO (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), revela que Roberto Andrade atuava como “chefe do esquema”, sendo responsável por definir quais empresas seriam vencedoras em licitações públicas, mediante pagamento de propinas entre 6% e 10% sobre o valor total dos contratos.
Mesmo com trocas no comando do Executivo municipal, Roberto Andrade permaneceu na alta cúpula da administração, ocupando cargos estratégicos, como o de secretário de Governo. Essa estabilidade política, segundo o MP, o colocou em posição privilegiada para dominar o sistema de contratações públicas.
Ele tinha poder para:
- Aprovar ou barrar empresas interessadas em participar das licitações
- Determinar cláusulas nos editais para favorecer aliados
- Autorizar ou atrasar pagamentos a fornecedores condicionando a liberação ao pagamento de propina.
R$ 1,1 Milhão em Propina em apenas mm mês
Durante a Operação Locus II – Terra Comprometida, em fevereiro de 2024, foi apreendido um caderno de anotações manuscritas de Roberto Andrade, com valores detalhados de propinas cobradas sobre medições e pagamentos de contratos públicos.
Apenas naquele mês, ele teria recebido R$ 1.105.092,00, referentes a obras como:
Parque dos Buritis (R$ 20,5 milhões)
Parque de Exposições (R$ 29,9 milhões)
Unidades habitacionais das concorrências 016/2023 e 037/2023
Além das anotações, foram encontrados:
R$ 182 mil em espécie escondidos em sua residência e veículo Documentos fiscais de empresas ligadas ao esquema Conversas telefônicas e mensagens confirmando os repasses
Em áudios extraídos de celulares de empresários envolvidos, Roberto Andrade aparece cobrando a famosa “comissão dos 6%”, percentual exigido sobre o valor bruto das notas fiscais emitidas pelas empresas vencedoras das licitações.
Segundo o MP, nenhuma empresa era contratada sem a autorização dele, e os empresários sabiam que só “venceriam” os certames se acertassem previamente os pagamentos de propina.
A denúncia descreve Roberto Andrade como “figura central de um sistema corrompido”, que transformou a prefeitura de Canaã dos Carajás em uma “máquina de enriquecimento ilícito”, controlando contratos, secretarias e até o Legislativo municipal.
O caso segue em andamento na Justiça paraense e pode desencadear novas operações e prisões nos próximos meses.
O Ministério Público requereu:
- A condenação de Roberto Andrade pelos crimes de organização criminosa, corrupção passiva, fraude à licitação e lavagem de dinheiro
- Bloqueio e confisco de bens
- Ressarcimento integral dos valores desviados aos cofres públicos