A Prefeitura de Canaã dos Carajás tenta, pela quinta vez, licitar o milionário serviço de coleta de lixo do município — e novamente sob os olhos atentos de quem acompanha os bastidores da máquina pública. O novo edital, publicado no Diário Oficial dos Municípios nesta segunda-feira (20), é mais uma tentativa desesperada da gestão municipal de destravar um contrato estimado em impressionantes R$ 150 milhões para um período de quatro anos. A sessão de abertura das propostas está marcada para o dia 3 de junho de 2025, às 8h.
Mas o que deveria ser um procedimento técnico e transparente virou um festival de suspeitas, impugnações e remendos administrativos. Desde o ano passado, todas as tentativas anteriores foram suspensas, com alegações de vícios de origem, erros nos critérios e até suspeitas de direcionamento, segundo advogados e empresas interessadas que atuaram nos processos.
Enquanto isso, a empresa Cidade Limpa, que há mais de uma década detém o controle da coleta de lixo na cidade, segue faturando alto. O contrato original já foi aditivado mais de dez vezes, driblando o princípio da licitação e mantendo a mesma prestadora sob justificativas administrativas frágeis. Agora, a situação chega ao limite: o contrato não pode mais ser aditivado legalmente, e a cidade corre o risco real de colapso no serviço essencial de limpeza pública.

A incoerência é flagrante: um município bilionário, com arrecadação turbinada pela mineração, tropeçando há mais de um ano para contratar uma nova empresa de lixo, como se estivesse lidando com um problema insolúvel. A cada edital impugnado, a pergunta se repete nos bastidores: incompetência ou má-fé?
Os indícios de favorecimento e a lentidão proposital para resolver o impasse geram desconfiança. Afinal, em um setor historicamente associado a esquemas de superfaturamento, conluios e apadrinhamento, o que está em jogo não é apenas o lixo da cidade, mas o tipo de política que a atual gestão pratica por trás dos contratos milionários.
É o tipo de situação que exige atuação firme dos órgãos de controle, como o Ministério Público e o Tribunal de Contas dos Municípios, que não podem continuar assistindo passivamente a esse teatro de repetições e impunidade.
Enquanto os editais continuam indo e voltando das gavetas da burocracia, quem paga a conta é o povo, que vê uma cidade rica atolada no próprio lixo — literal e administrativamente.