Parauapebas vive um momento decisivo: o sistema de água e esgoto, construído com centenas de milhões em investimentos públicos, está prestes a ser entregue à Aegea Saneamento, empresa privada que assumirá a concessão a partir de janeiro de 2026. O contrato de concessão do Bloco D foi assinado pelo Governo do Pará em julho de 2025. Mas enquanto a cidade discute o futuro de um dos seus bens mais essenciais, o prefeito Aurélio Goiano escolheu o silêncio conveniente.
O mesmo Aurélio Goiano que já usou suas redes sociais para atacar vereadores, difamar gestões passadas e se vender como “fiscal do povo”, agora se mostra omisso diante da maior decisão administrativa recente: a entrega da água pública de Parauapebas ao setor privado, com aval do governador Helder Barbalho (MDB).
Nenhuma live, nenhum vídeo, nenhum discurso inflamado.
Nada.
Quando o assunto envolve o grupo político dos Barbalhos — do qual ele já subiu em palanque para pedir votos — o tom combativo desaparece.
Poderia agir, mas escolheu assistir
Aurélio Goiano poderia questionar a concessão, acionar a Justiça, mobilizar a Câmara ou simplesmente dar transparência ao processo. Mas não apresentou nenhuma ação judicial, nenhuma manifestação pública de indignação, e nenhum plano de defesa da tarifa social — um direito essencial para famílias de baixa renda que pode ser afetado com a privatização.
Mesmo com o histórico de investimentos feitos pelo município no sistema de abastecimento — poços, redes, estações e reservatórios pagos com dinheiro do povo — o prefeito prefere assistir de camarote à entrega do patrimônio público.
Do “fiscal do povo” ao prefeito omisso
Antes, como vereador, Goiano se autoproclamava fiscal do povo, denunciava contratos e fazia lives por causas menores.
Hoje, como prefeito, se cala diante de uma decisão que impacta milhares de famílias e compromete o controle público de um serviço essencial.
A mesma voz que um dia gritou “a água é do povo” agora se cala para não desagradar Helder Barbalho. A coerência política foi trocada por conveniência.
A água vira negócio — e o povo paga a conta
A transição para a Aegea significa que o serviço público vira mercadoria, e o acesso à água, um direito constitucional, pode se transformar em fonte de lucro privado.
Enquanto o governo do Estado e a empresa celebram o contrato, a população se prepara para tarifas mais altas e incertezas sobre a manutenção da tarifa social.
Aurélio Goiano, que deveria estar na linha de frente dessa defesa, optou pelo silêncio político.
Um silêncio que fala mais do que qualquer live:
“De fiscal do povo a cúmplice da omissão.”
O que Goiano poderia ter feito antes da assinatura da concessão
Antes de julho de 2025, quando o contrato para o Bloco D foi formalizado pelo Estado, e mesmo durante as fases do leilão (realizado em abril de 2025) , o prefeito ainda estava em posição de agir — se quisesse — para proteger os interesses de Parauapebas. Eis o que ele poderia ter feito:
1. Não aderir ao bloco estadual Antes de qualquer tramitação estadual, o município poderia simplesmente não assinar termo de adesão ao Bloco D do saneamento. Ou recusar participar do modelo ofertado. Isso impediria automaticamente que o Estado mexesse com o saneamento de Parauapebas no modelo de concessão regionalizada.
2 Negociar contrapartidas cláusulas mínimas no edital Durante a fase de elaboração do edital (antes do leilão), Goiano poderia ter exigido cláusulas de proteção ao público:
• tarifa social garantida e automática para famílias de baixa renda
• limites máximos de reajuste tarifário
• penalidades severas por descumprimento de metas de atendimento
• participação direta do município nas decisões operacionais
• cláusulas de revisão ou rescisão automática se a empresa descumprir obrigações
3 Aprovar lei ou decreto municipal condicionando a participação Levar o debate à Câmara Municipal e aprovar uma lei condicionante: “Parauapebas só aderirá se houver garantia de não oneração da população, manutenção do controle público parcial, e fiscalização social intensa.” Isso criaria respaldo legal local e limitaria o contrato assinado pelo Estado.
4 Abrir auditoria e transparência pública Antes da assinatura, ele poderia tornar públicos todos os estudos, pareceres jurídicos, técnicos, cálculos de tarifas e impactos sociais, promovendo audiências públicas — obrigando que o processo fosse debatido com a população.
5 Impugnar ou questionar judicialmente o edital ou modelo de concessão Ainda na fase de edital ou no período de lances, o município poderia ingressar com ação judicial preventiva alegando vícios no edital (falta de participação popular, cláusulas abusivas, supremacia estadual sobre autonomia municipal, falhas nos estudos técnicos). Isso poderia atrasar ou suspender a assinatura do contrato até que eventuais ilegalidades fossem revistas.
6 Mobilização política e pressão institucional Usar a influência política local para pressionar deputados estaduais, Ministério Público, órgãos de controle e governo estadual para rever o modelo ou excluir Parauapebas do bloco D ou obter tratamento especial de proteção aos recursos públicos já investidos.
Mas ele não fez nenhuma dessas coisas — ou pelo menos não mostrou publicamente que tentou.