Em um giro de 180 graus que expõe as contradições da política local, o prefeito Aurélio Goiano, autorizou pagamentos que somam mais de R$ 10,9 milhões à empresa White Tratores Serviços e Comércio LTDA em 2025. Os valores, destinados à locação de caminhões-pipa e limpa-fossa para o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Parauapebas (SAAEP), contrastam drasticamente com as acusações feitas pelo próprio Goiano quando ainda era vereador. Na época, ele fez uma live denunciando o empresário Branco, proprietário da White Tratores, como “bandido” e afirmando que “o dinheiro do Branco não o comprava”.
De acordo com documentos oficiais do SAAEP, obtidos e analisados, os pagamentos ocorreram ao longo do ano, iniciando em janeiro e se estendendo até novembro de 2025. O total exato é de R$ 10.986.228,30, distribuídos em 14 transações, todas relacionadas ao contrato nº 1173/2023 e seus aditivos subsequentes. Os serviços incluem caminhões com capacidades de 10.000L, 15.000L e 20.000L, supostamente para atender demandas de abastecimento de água e saneamento. No entanto, a magnitude dos valores levanta questionamentos sobre a transparência e a necessidade real desses contratos, especialmente considerando o histórico controverso da empresa.
O que torna essa situação ainda mais alarmante é a ligação de Branco da White com uma denúncia do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA). Em uma operação sigilosa batizada de “Locus II”, deflagrada em agosto de 2024, o MPPA investigou uma organização criminosa atuante em Canaã dos Carajás, vizinha a Parauapebas. A quadrilha, composta por empresários e agentes públicos, é acusada de fraudar licitações milionárias, manipulando processos para favorecer contratos superfaturados e cobrando propinas que variam de 6% a 10% sobre os valores. Branco e sua empresa White Tratores foram diretamente citados como parte do núcleo empresarial dessa rede, com mandados de busca e apreensão cumpridos, incluindo a apreensão de dinheiro.
A denúncia do MPPA, que abrange mais de 100 páginas de evidências, descreve um esquema sofisticado de corrupção, com associação criminosa e lavagem de dinheiro. Em 2023, o promotor Alan Pierre Chaves Rocha já havia formalizado acusações contra agentes políticos e servidores de Canaã, destacando o papel de empresários como Branco no direcionamento de licitações. Agora, com Goiano no poder, surge a dúvida inevitável: quem garante que práticas semelhantes não estejam se repetindo em Parauapebas? O prefeito, que se elegeu prometendo combater o “sistema corrupto”, parece ter se integrado a ele. Afinal, como explicar a continuidade de contratos milionários com uma empresa denunciada por fraudes em município vizinho, especialmente após as próprias acusações públicas de Goiano?
Críticos locais apontam para uma hipocrisia flagrante. “Aurélio Goiano jurou combater a corrupção, mas cada passo que dá o aproxima dos mesmos personagens que ele denunciava”, comenta um analista político da região, ecoando o sentimento de decepção entre eleitores. Em lives antigas, Goiano não poupava palavras: acusava Branco de “roubar Parauapebas” e se posicionava como o outsider incorruptível. Hoje, como prefeito, ele aprova aditivos contratuais que engordam os cofres da White Tratores, como visto nos registros do SAAEP, incluindo um segundo aditivo mencionado repetidamente nos históricos das despesas.
A prefeitura de Parauapebas ainda não se manifestou oficialmente sobre as acusações, mas em postagens recentes, Goiano comentou vagamente sobre revisar contratos polêmicos, sem ações concretas. Enquanto isso, a população de Parauapebas, que enfrenta problemas crônicos de saneamento, questiona se esses milhões estão sendo bem empregados ou se servem apenas para perpetuar ciclos de corrupção. O MPPA, que já atua em Canaã, pode ser o próximo a investigar: afinal, fronteiras municipais não param organizações criminosas.
Agora o mesmo empresário apontado como líder de organização criminosa em Canaã é o maior beneficiado nos pagamentos do SAAEP de Parauapebas – autarquia que responde diretamente ao prefeito Aurélio Goiano.
Alguns destaques dos pagamentos em 2025:
- 24/01/2025 → R$ 575.273,01
- 27/01/2025 → R$ 591.752,67
- 05/02/2025 → R$ 859.094,62
- 14/02/2025 → R$ 845.240,52
- 11/03/2025 → R$ 946.564,91
- 03/04/2025 → R$ 1.016.673,52
- 15/05/2025 → R$ 1.016.082,33
- e assim sucessivamente até novembro, totalizando os quase R$ 11 milhões.
Este caso ilustra o velho ditado: “Diga-me com quem andas, e eu te direi quem és”. Aurélio Goiano, outrora acusador, agora aliado – uma transformação que custa caro aos cofres públicos e à credibilidade da administração.
OBS:
Esses pagamentos foram feitos em duas naturezas de despesa distintas, o que ajuda a entender como os valores foram distribuídos entre dívidas antigas e serviços em andamento:
1. Despesas de Exercícios Anteriores (Código 3.3.90.92.00)
Essa categoria representa o pagamento de dívidas de anos anteriores, registradas oficialmente como “Despesas de Exercícios Anteriores”.
Foram pagos R$ 2.104.818,95, correspondentes à liquidação de débitos deixados de gestões anteriores ou compromissos assumidos antes de 2025.
2. Outros Serviços de Terceiros – Pessoa Jurídica (Código 3.3.90.39.00)
A segunda categoria corresponde aos serviços efetivamente prestados em 2025, classificados como “Outros Serviços de Terceiros – Pessoa Jurídica”.
Nela, o SAAEP desembolsou R$ 8.881.419,35, valores referentes à locação de caminhões-pipa e limpa-fossa ainda em execução neste exercício, conforme o contrato nº 1173/2023 e seus aditamentos.
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