Apesar de alegar publicamente que a cidade enfrenta uma crise financeira, o prefeito Aurélio Goiano autorizou, apenas nos primeiros cinco meses de 2025, mais de R$ 4 milhões em despesas com passagens aéreas por meio da empresa WC Viagens e Turismo EIRELI, contratada por quase todas as secretarias do município. A informação foi obtida com base em documentos públicos e faturas fiscais analisadas pela reportagem do Canal PBS.
A alegação de que o município estaria “quebrado” foi feita pelo próprio prefeito em discursos recentes, inclusive ao justificar a suspensão de serviços e a falta de investimentos em áreas essenciais. No entanto, a realidade das despesas expõe outra face da gestão: voos frequentes, contratos robustos com empresas de turismo e justificativas genéricas para gastos milionários com deslocamentos aéreos.
Viagens para todos os lados, sem transparência de destino
Entre os órgãos que mais consumiram passagens estão:
- Fundo Municipal de Saúde: R$ 1,3 milhão
- Secretaria de Meio Ambiente: R$ 214 mil
- Secretaria Especial de Governo: R$ 148 mil
- Secretaria de Segurança Institucional: R$ 273 mil
- Secretaria de Juventude e Cultura: R$ 91 mil
- Educação, Esporte, Produção Rural e Assistência Social: somam mais de R$ 400 mil
Os documentos consultados apontam uma prática padronizada: passagens emitidas com base em ordens de serviço repetidas (ex: O.S.2862/2025 e O.S.2529/2025), sem clareza sobre os nomes dos servidores, motivos da viagem ou comprovações de deslocamento.
Além disso, uma única fatura — analisada pela reportagem — mostra uma despesa de R$ 120.200,03 validada por um assessor especial, e não por um técnico da saúde. O montante se refere a passagens entre cidades como Belém, São Paulo, Fortaleza, Brasília e Confins.
Contradições na fala do prefeito
A incoerência entre o discurso do prefeito e os dados oficiais é gritante. Enquanto setores da saúde denunciam falta de insumos, unidades escolares estão sucateadas e obras estão paradas, a gestão segue priorizando viagens e repasses a empresas que atuam como intermediadoras de bilhetes aéreos, uma prática questionável diante da possibilidade de compra direta com companhias aéreas — o que seria mais econômico.
Duas empresas concentram os contratos
Além da WC Viagens, a empresa J.L.P. Santos & Cia Ltda também aparece como fornecedora de passagens para o gabinete do prefeito e órgãos internos da prefeitura. Só em 2025, já embolsou R$ 455 mil em empenhos, sendo R$ 43 mil pagos em fevereiro exclusivamente para o gabinete. O contrato prevê atendimento remoto para emissão e cancelamento de bilhetes.
Transparência seletiva
Chama atenção o fato de que muitas despesas foram fracionadas em valores pequenos — entre R$ 400 e R$ 1.000 —, o que pode indicar tentativa de diluição contábil para escapar de alertas automáticos ou dificultar a fiscalização.
Enquanto isso, nenhum relatório público detalha as viagens realizadas, os resultados das ações fora do município ou o impacto dessas agendas para a população de Parauapebas.
A cidade está mesmo quebrada?
Se Parauapebas realmente estivesse “quebrada”, como diz o prefeito, não haveria espaço para esse turismo institucional desenfreado. Os dados revelam um cenário de prioridades invertidas e gastos incompatíveis com o discurso de austeridade.
O cidadão que precisa de atendimento médico, transporte escolar ou obras em seu bairro segue esperando. Já os gestores, ao que tudo indica, não param de voar — às custas do dinheiro público.
Dados principais:
- Total de empenhos com WC Viagens: R$ 4.002.211,42
- Total com J.L.P. Santos & Cia: R$ 455.167,01
- Setores com maior volume de despesas: Saúde, Meio Ambiente, Governo e Segurança
- Justificativas genéricas e sem detalhamento de passageiros ou destinos
- Contratos com valores acima de R$ 100 mil por secretaria



