Uma grave denúncia de racismo religioso e institucional atingiu o prefeito de Parauapebas, Aurélio Goiano, após declarações consideradas ofensivas às religiões de matriz africana. O episódio ocorreu durante uma sessão solene na Câmara Municipal, realizada na noite de 11 de junho de 2025, em comemoração ao Dia do Evangélico, com transmissão ao vivo pelo canal oficial da Câmara no YouTube.
O que foi dito
Durante sua fala pública, o prefeito afirmou que, dentro do Departamento de Assuntos Religiosos, um pastor estaria pronto para receber pessoas de religiões de matriz africana. Em tom pejorativo e de ataque direto, completou:
“Jesus salva, Jesus cura… cuidado pra não ir para o inferno”,
além de afirmar que o coordenador do setor é um “matador de demônios”, associando de forma direta os praticantes das religiões afro-brasileiras a entidades demoníacas.
Reações imediatas
A repercussão foi instantânea nas redes sociais e entre entidades religiosas. A representante da Federação Espírita e Umbandista dos Cultos Afro-Brasileiros do Estado do Pará, Maevanessa, publicou nota de repúdio nas redes:
“As religiões de matriz africana não precisam ser curadas. Nossos rituais não são demônios a serem combatidos. O povo de axé não precisa de salvação. Precisa de respeito!“
Ela destacou ainda o que classificou como “uso indevido da estrutura pública para disseminar discurso de ódio”, criticando também a conivência dos vereadores, que permaneceram calados durante as falas do prefeito — alguns, inclusive, aplaudiram as declarações.
Pedido de intervenção do Ministério Público
O episódio já está sendo documentado por organizações de direitos humanos e será encaminhado ao Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e ao Tribunal de Contas, para apuração de possível:
- Racismo religioso (crime previsto em lei federal);
- Abuso de poder institucional;
- Violação ao princípio constitucional da laicidade do Estado;
- Improbidade administrativa.
A FEUCABEP também exige uma retratação pública imediata de Aurélio Goiano e do Pastor Geraldo, além de posicionamento oficial da Câmara de Vereadores de Parauapebas.
Laicidade ameaçada
O episódio reacende o debate sobre a laicidade do Estado, princípio garantido pela Constituição Federal, que impede que o poder público favoreça ou ataque qualquer religião.
“O que vimos foi o uso da fé de alguns para atacar a fé de outros. Isso é crime. Isso é racismo religioso institucionalizado”, concluiu a nota oficial da Federação.
Contexto político
A polêmica surge num momento delicado para o município. Parauapebas ainda enfrenta fortes questionamentos públicos após escândalos recentes de irregularidades administrativas. Para lideranças religiosas e representantes da sociedade civil, o caso expõe o uso político da religião como ferramenta de exclusão e perseguição, o que pode gerar consequências judiciais para o prefeito e para os demais agentes públicos envolvidos.
A sociedade agora aguarda uma resposta concreta.
Os próximos dias devem definir os rumos de mais esse episódio polêmico envolvendo a atual gestão municipal.
