Em uma cidade abençoada com bilhões em royalties da mineração, mas amaldiçoada por uma gestão que parece priorizar amigos e contratos suspeitos em vez do bem-estar da população, um novo capítulo de indignação se desenrola. Documentos do Ministério Público do Pará (MPPA), por meio do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (GAECO), revelam uma teia de corrupção envolvendo licitações fraudadas e uma organização criminosa que drena os cofres públicos.
No centro desse furacão estão quatro empresas citadas em denúncia do GAECO/MPPA que voltaram a faturar valores milionários com a Prefeitura, principalmente em contratos de locação de veículos e máquinas, enquanto a população enfrenta falta de água, ruas esburacadas e filas intermináveis nos postos de saúde.
LOCAN Locação de Máquinas e Veículos Ltda R$ 47.881.345,81, ROMA Construções e Transportes Eireli R$ 14.154.148,59, TALISMA Locações e Serviços Eireli R$ 49.290.304,10 e WHITE Tratores Serviços de Terraplenagem Ltda R$ 23.746.988,03 somaram, juntas milhões de reais em contratos apenas em 2025 com a Prefeitura de Canaã dos Carajás. Tudo isso sob a gestão da prefeita Josemira Gadelha, marcada por prioridades invertidas, gastos volumosos e um descaso evidente com os problemas básicos enfrentados diariamente pela população.
De acordo com o organograma elaborado pelo GAECO, essas empresas estão interligadas por figuras chave acusadas de orquestrar fraudes em licitações e contratos. O esquema envolve núcleos político, técnico e empresarial, com foco em segmentos como construção civil, locação de veículos e máquinas, e até fornecimento de combustíveis – áreas onde o dinheiro público flui como um rio caudaloso, mas sem transparência ou resultados visíveis para a população.
- LOCAN Locação de Máquinas e Veículos Ltda, comandada por Gilvan da Silva Pinheiro (conhecido como “Gilvan da Van”), faturou impressionantes R$ 47.881.345,81 em 2025. A empresa, especializada em locação de veículos com motoristas e combustível incluídos, atende fundos municipais de cultura, esporte e lazer. No entanto, o GAECO aponta Gilvan como parte do núcleo empresarial, com ligações diretas a fraudes em processos licitatórios. Por que uma cidade rica precisa alugar frotas inteiras a custos exorbitantes, em vez de investir em patrimônio próprio? A resposta pode estar nas conexões políticas que garantem contratos renovados ad infinitum.
- WHITE Tratores Serviços de Terraplenagem Ltda, liderada por Ailson Ferreira Alves (“Ailson da White”) e João Vicente Ferreira do Vale (“Branco da White”), embolsou R$ 23.746.988,03 neste ano. Os pagamentos, detalhados em relatórios oficiais, incluem serviços de terraplenagem, drenagem e pavimentação em bairros como Vale do Canaã – ironicamente, áreas que continuam com ruas destruídas. Ailson, ex-vereador de Canaã, é denunciado diretamente pelo MPPA por corrupção ativa, frustração de licitações e integração à organização criminosa. O histórico de pagamentos mostra valores mensais na casa dos centenas de milhares, como R$ 514.229,80 em janeiro e R$ 1.255.872,55 em junho, todos por “concorrência” que cheiram a direcionamento.
- ROMA Construções e Transportes Eireli e TALISMA Locações e Serviços Eireli, também sob a influência de Ailson Ferreira Alves (com cotas mantidas em nome de terceiros, segundo o GAECO), acumularam R$ 14.154.148,59 e R$ 49.290.304,10, respectivamente. Essas empresas focam em locação para educação e assistência social, mas o esquema revelado inclui manipulação de pregões e contratos para desviar recursos. O total faturado por essas quatro empresas supera R$ 135 milhões em 2025, um valor que poderia pavimentar ruas, construir poços artesianos ou equipar hospitais – mas, em vez disso, parece engordar bolsos privados.
A denúncia é clara: esquema antigo, método conhecido
A denúncia do GAECO aponta que o esquema atuava desde 2014, com divisão de tarefas entre núcleo político, núcleo técnico e núcleo empresarial, utilizando empresas registradas em nome próprio ou de terceiros para vencer licitações com sobrepreço, simulação de concorrência e execução contratual fraudada.
O próprio Ministério Público descreve Canaã como uma “terra comprometida com a corrupção”, onde a máquina pública foi capturada para atender interesses privados — especialmente em contratos milionários de locação
Prioridades invertidas sob a gestão Josemira Gadelha
No comando dessa máquina desde 2021, a prefeita Josemira Gadelha tem muito a explicar. Sua administração é criticada por privilegiar contratos milionários com empresas agora sob investigação, enquanto ignora clamores populares por infraestrutura básica. Por que, em uma cidade com usina de asfalto própria, persistir em terceirizações caras e suspeitas? Por que bairros nobres e periféricos ainda enfrentam racionamento de água, e postos de saúde operam no improviso? Os royalties da mineração – extraídos da Vale e outras gigantes – deveriam transformar Canaã em um oásis de prosperidade, não em um pântano de corrupção.
Críticos locais apontam para um padrão: aditivos contratuais que estendem acordos indefinidamente, pregões eletrônicos com indícios de cartel e pagamentos realizados mesmo com serviços questionáveis. O GAECO menciona até afastamento de funções públicas para envolvidos, mas Gadelha segue em silêncio, priorizando perhaps eventos culturais ou esportivos – ironicamente financiados por essas mesmas empresas. É inaceitável que uma prefeita eleita para servir o povo permita que R$ 135 milhões escorram para bolsos de acusados de crime organizado, enquanto cidadãos esperam horas por atendimento médico ou desviam de buracos nas ruas.
Josemira Gadelha, é hora de prestar contas. Em uma terra de minério de ferro, o povo não merece ser tratado como refugo. A população clama por justiça – e por uma gestão que, finalmente, priorize o essencial em vez do suspeito.
Em uma cidade rica em minério, o que escasseia é responsabilidade com o dinheiro público.

Empresas ligadas à organização criminosa faturam mais de R$ 100 milhões em aluguel de veículos na gestão Josemira Gadelha em 2025







