A menos de quatro meses da COP30, marcada para acontecer em Belém (PA), um novo escândalo atinge o governo estadual. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), duas empresas investigadas por corrupção em licitações da conferência climática já receberam ao menos R$ 911 milhões dos cofres públicos paraenses entre 2020 e 2024. As empreiteiras J.A Construcons e JAC Engenharia são ligadas ao deputado federal Antônio Doido (MDB-PA) e aparecem em movimentações financeiras suspeitas monitoradas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
As duas companhias estariam no centro de um possível esquema de corrupção envolvendo licitações da COP30, com indícios de fraude, lavagem de dinheiro e desvios de recursos públicos. De acordo com a PGR, os valores foram pagos pelo governo Helder Barbalho (MDB), que contratou as empresas por meio de processos licitatórios milionários — um deles para obras no Canal Benguí, em Belém, no valor de R$ 123,3 milhões.
Saques milionários e conexões com a Polícia Militar
O nome de Francisco Galhardo, policial militar preso às vésperas das eleições municipais de 2024 após sacar R$ 5 milhões, também aparece como peça-chave na investigação. A PGR encontrou, em seu celular, mensagens que reforçam a suspeita de que ele atuava como operador financeiro do esquema. Um dia após as empresas vencerem uma licitação no valor de R$ 142 milhões — para a obra chamada “Perna Norte”, em Belém — Galhardo sacou R$ 6 milhões em espécie e se comunicou diretamente com o secretário estadual de Obras, Benedito Ruy Cabral, segundo o órgão.

Quatro dias depois da licitação, o PM e o secretário teriam se encontrado presencialmente, conforme indícios extraídos das mensagens.
R$ 1 bilhão em empenhos
De acordo com levantamento da própria PGR, o governo do Pará emitiu 460 notas de empenho para a J.A Construcons entre 2020 e 2024, totalizando R$ 1,01 bilhão, dos quais R$ 911,4 milhões já foram pagos. O Coaf aponta que a movimentação financeira da empresa “sugere a ocorrência de desvio de recursos públicos e/ou fraude em processos licitatórios”, especialmente devido à complexidade dos saques em espécie e à pulverização dos valores.
A J.A Construcons e a JAC Engenharia são controladas por pessoas próximas ao deputado Antônio Doido — formalmente, a sócia majoritária da Construcons é sua esposa. A PGR, no entanto, afirma que ela atua como “laranja” do parlamentar.
Indícios de organização criminosa
A PGR classifica as ações do deputado, do PM Galhardo e do secretário Ruy Cabral como parte de uma organização criminosa voltada a crimes contra a administração pública e violações em licitações. Há também indícios de infrações eleitorais e transgressões contra o sistema financeiro nacional.

Governo do Pará e defesas
Em nota, o governo do Pará negou qualquer irregularidade, afirmando que os contratos com as empresas foram celebrados “por meio de processos licitatórios regulares”, seguindo a legislação vigente. O Palácio dos Despachos também declarou que não tem conhecimento de nenhuma investigação formal sobre os contratos citados, mas que colocará à disposição os mecanismos de controle interno caso seja notificado.
A defesa do deputado Antônio Doido repudiou o que chamou de “vazamento criminoso” de informações sigilosas e disse que o parlamentar está à disposição da Justiça, reafirmando que os questionamentos são “ilações já esclarecidas nos autos”.
Impacto sobre a COP30
A revelação do escândalo representa mais uma crise política para o governo Helder Barbalho em meio aos preparativos da COP30, evento internacional que terá os olhos do mundo voltados para Belém. As suspeitas sobre licitações e o uso de recursos públicos podem comprometer a imagem do Pará perante a comunidade internacional — e reacendem o debate sobre transparência, corrupção e impunidade no uso de verbas públicas.