Diversos portais de notícias, incluindo o Metrópoles, estão divulgando que 70,3% da população paraense “aprova” o governo de Helder Barbalho (MDB). A manchete, no entanto, escancara uma manobra estatística questionável: a soma indevida das avaliações “regulares” com as realmente positivas (“ótimo” e “bom”) para inflar a percepção de apoio popular ao governador.
A pesquisa citada, realizada pela AtlasIntel entre os dias 7 e 14 de julho com 2.214 entrevistados, apresenta os seguintes dados brutos:
- Ótimo: 33,6%
- Bom: 24,8%
- Regular: 28%
- Ruim: 5,6%
- Péssimo: 8%
Ou seja, os que realmente avaliam positivamente a gestão somam 58,4%. O restante ou não aprova, ou simplesmente considera o governo mediano. A inclusão do “regular” como aprovação é um artifício para alcançar os 70,3% que viram manchetes nos jornais.
Regular não é Aprovação
Na metodologia tradicional de pesquisa, o termo “regular” é considerado neutro — não expressa nem aprovação nem reprovação. Portanto, classificá-lo como apoio ao governo é enganoso e compromete a interpretação dos dados. Na prática, isso mascara insatisfações ou ceticismo do eleitorado e pinta um quadro artificialmente otimista da gestão Barbalho.
Especialistas em estatística política e metodologia de opinião pública apontam que esse tipo de agregação é comum em períodos eleitorais, quando se busca sustentar narrativas de força política. O problema é que esse expediente confunde o eleitor e omite o descontentamento crescente de parte significativa da população.
Além disso, esse tipo de distorção tende a ser reproduzido sem questionamento pela grande mídia, que passa a atuar mais como assessoria de imagem do governo do que como veículo de informação imparcial.
Comparação com outras pesquisas
Levantamentos anteriores, como o do Instituto Paraná Pesquisas, mostram um cenário semelhante, com aprovação na casa dos 66% — mas também com mais de 20% de avaliação negativa. No entanto, mesmo nessa pesquisa, “regular” foi mantido como categoria à parte, sem ser somado automaticamente às avaliações positivas.
A tentativa de empurrar o “regular” como se fosse apoio escancarado é uma estratégia de marketing político que distorce a percepção pública e enfraquece a confiança nas pesquisas eleitorais. O cidadão comum, que vê o governo como “mais ou menos”, pode se surpreender ao descobrir que está sendo contabilizado como um entusiasta da gestão Helder Barbalho.
Se o governo quer demonstrar apoio real, que faça isso com transparência. Porque maquiar números é uma forma silenciosa de manipular a opinião pública — e isso, em qualquer lugar do mundo, tem outro nome: desinformação disfarçada de estatística.