Longe das manchetes nacionais, uma das mais escandalosas formas de corrupção avança silenciosa pelas prefeituras do interior do Brasil. Trata-se do esquema bilionário e sistemático de fraudes em contratos de locação de veículos e fornecimento de combustíveis, que transformou pequenas cidades em verdadeiros balcões de negócios ilegais.
É comum encontrar contratos de aluguel de caminhonetes que, na prática, pertencem ao próprio prefeito, a vereadores aliados ou a secretários municipais. O golpe é sofisticado na aparência, mas simples na lógica: o município aluga o carro do gestor — ou de seu laranja — com dinheiro público, lucrando duas vezes em cima da mesma estrutura. Muitas vezes, o veículo já foi comprado com recursos da própria prefeitura, mas volta à folha como “locado”.
Mais grave ainda são os casos de veículos fantasmas, sem existência física, mas com notas fiscais e registros de abastecimento constantes. Mesmo os carros que existem, frequentemente são desnecessários, usados para fins particulares por apadrinhados políticos, ou ficam parados enquanto os pagamentos seguem normalmente. Não faltam situações em que o município possui mais carros “locados” do que ruas urbanas para circular.
O escândalo se agrava com a chamada “farra do combustível”: tanques que nunca enchem, postos que faturam sem abastecer, e planilhas de quilometragem que indicam viagens absurdas — tudo sustentado por documentação manipulada e ausência de fiscalização real. Em muitos casos, combustível é pago para carros que sequer existem nos registros de frota.
Enquanto os cofres públicos são saqueados por essa engrenagem criminosa, a população amarga o descaso: postos de saúde sem insumos, escolas sucateadas, estradas intransitáveis e servidores mal remunerados. O que deveria ser um serviço público se transforma em instrumento de enriquecimento ilícito para um grupo restrito de políticos e empresários aliados.
O que sustenta essa estrutura? O silêncio dos coniventes, a omissão dos que deveriam fiscalizar, e o medo imposto a quem ousa denunciar. Muitos vereadores, em vez de cumprirem seu papel constitucional de fiscalizadores, optam pelo silêncio — ou pela participação direta nos lucros do esquema.
É hora de romper o ciclo. O Brasil não pode mais tolerar gestões que se sustentam em gasolina superfaturada e caminhonetes alugadas de si mesmos. A corrupção nos municípios não é um problema menor — é a principal engrenagem da desigualdade social e do atraso estrutural.
Chega de impunidade. Quem desvia o dinheiro do povo precisa ser identificado, julgado e punido. O futuro passa pela limpeza urgente das prefeituras.
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