Enquanto o Ministério Público do Estado do Pará, por meio do GAECO (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), expõe um esquema milionário de corrupção instalado na Prefeitura de Canaã dos Carajás, a prefeita Josemira Gadelha (MDB) permanece em completo silêncio. Nenhuma nota oficial foi divulgada, mesmo com o envolvimento direto de pregoeiros, secretários, empresários e até vereadores que atuam sob sua gestão.
A denúncia do Ministério Público revela um esquema de fraudes em licitações, pagamentos de propinas e lavagem de dinheiro, operado com a participação de figuras-chave da administração municipal. Entre os nomes citados, está o vereador Flávio Gomes de Souza, atual presidente da Câmara, agora politicamente rebatizado como “Flávio Gadelha”, em referência à aliança com a chefe do Executivo.
Flávio foi formalmente citado na peça de 129 páginas do GAECO, apontado como membro do núcleo político da organização criminosa. Segundo o MPPA, ele recebia propinas por meio de boletos pagos por empresas contratadas pelo município, como a CSP – Construtora Sul Pará, DMB Comércio de Alimentos e MADA Comércio de Materiais. Um exemplo claro foi o pagamento de um boleto no valor de R$ 7.743,00, emitido em nome de seu filho, Danilo, e quitado por uma das empresas investigadas.
Além disso, foram identificadas transferências bancárias suspeitas, incluindo um depósito de R$ 200 mil à empresa MADA, que tem como sócio Daniel Gomes Nunes Filho, também denunciado. O Ministério Público afirma que Flávio usava intermediários, contas de terceiros e codinomes como “bênção” para tratar de propinas. Em interceptações telefônicas, ele aparece cobrando repasses e pressionando operadores do esquema para garantir benefícios pessoais e políticos.
Mesmo diante de provas contundentes, a prefeita Josemira Gadelha não só evitou se pronunciar, como também mantém apoio direto a Flávio Gomes, que é cotado para permanecer na presidência da Câmara em 2025. Para críticos, esse “prêmio político” representa uma afronta à moralidade administrativa e à transparência que se espera de uma gestão pública.
Outro nome envolvido é o do atual secretário de Governo, Adam Carlos Amorim, acusado de receber propinas para liberar medições fraudulentas relacionadas às empresas ISO Engenharia e Consórcio Ravi. Escutas telefônicas revelam conversas entre os empresários Ismael Souza e Romário Ribeiro, nas quais Adam e o ex-pregoeiro Douglas Santana são citados como destinatários de pagamentos ilícitos.

O ambiente de corrupção institucionalizada teria afastado empresas sérias de Canaã, impossibilitadas de participar de licitações diante de um cenário contaminado por favorecimentos escancarados.
Enquanto isso, nenhuma ação concreta foi tomada pela prefeita para afastar os envolvidos, instaurar sindicâncias ou demonstrar compromisso com o combate à corrupção. O silêncio institucional de Josemira e da base aliada na Câmara é interpretado por muitos como conivência ou fragilidade política diante dos fatos.
E não é só a prefeita que se cala. Até o momento, nenhum vereador da atual legislatura de 2025 se manifestou sobre o conteúdo da denúncia ou cobrou explicações da gestão municipal. Seguem em silêncio absoluto:
Vereadores de Canaã dos Carajás em 2025 que permanecem calados diante das denúncias:

DIONIZIO COUTINHO (MDB)
CABELO (UNIÃO)
WERBET FELIPE (PDT)
JUNIOR GUIRELLE (PL)
ANUAR FILHO (MDB)
CHEFINHO (UNIÃO)
CLEIDO BRAZ (UNIÃO)
CLEVIS CRIATURA (PDT)
DANIEL NUNES (MDB)
JONAS MAGALHAES (PDT)
MIGUEL DA SAÚDE (MDB)
PROFESSORA ELENJUSSE (MDB)
WILSON LEITE (MDB)
WALTER DINIZ (UNIÃO)
A omissão coletiva dos parlamentares levanta questionamentos sobre o comprometimento da atual legislatura com a moralidade, a fiscalização e o interesse público. O silêncio que deveria ser exceção tornou-se a regra — e isso fragiliza as instituições democráticas do município.
A população de Canaã dos Carajás aguarda respostas. Em uma democracia, o silêncio diante da corrupção não é neutralidade: é conivência.