Parauapebas, no sudeste do Pará, passou por transformações econômicas significativas nos últimos 10 anos (2015-2025), impulsionadas principalmente por sua posição como um dos maiores polos de mineração do Brasil, mas também por esforços para diversificar sua economia e enfrentar desafios estruturais. Vamos explorar as mudanças mais marcantes com base no contexto histórico e no desenvolvimento recente da cidade.
1. Dependência e Flutuações dos Royalties da Mineração
Parauapebas é conhecida como a “Capital do Minério” por abrigar a Mina de Carajás, operada pela Vale, uma das maiores jazidas de minério de ferro do mundo. Nos últimos 10 anos, a economia local foi fortemente influenciada pela Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), os royalties pagos pela mineração:
- Pico de Receita: Em 2021, no auge da demanda global por minério durante a pandemia, Parauapebas arrecadou R$ 1,4 bilhão em CFEM, um recorde que reflete o boom das commodities. Esse influxo transformou a cidade em uma das mais ricas do Pará, superando até Belém em PIB (R$ 38 bilhões em 2020).
- Queda Recente: Em 2025, however, a arrecadação caiu drasticamente — em abril, por exemplo, os royalties foram de apenas R$ 31,5 milhões, o menor valor em sete anos, contra uma média anterior de R$ 60 milhões ou mais por mês. Essa volatilidade expôs a vulnerabilidade de depender tanto de um único setor, ligado a preços globais e ciclos econômicos.
Essa oscilação forçou a prefeitura a repensar o uso dos recursos, direcionando parte deles para infraestrutura e serviços, mas também gerou debates sobre a necessidade de diversificação econômica.
2. Investimentos em Infraestrutura
Os últimos 10 anos viram um esforço para transformar a riqueza mineral em melhorias tangíveis:
- Asfalto e Mobilidade: Em 2025, uma parceria com o governo do estado garantiu 100 km de pavimentação, com a meta de melhorar vias urbanas e rurais. Isso reflete uma década de investimentos em infraestrutura, como a expansão de bairros planejados (ex.: Cidade Jardim) e a modernização da PA-275, essencial para escoar produção e conectar a região.
- Saneamento: Projetos como o Prosap, iniciado nos últimos anos, buscam universalizar o acesso a água e esgoto. Em 2015, apenas 5% das casas tinham esgoto tratado; hoje, esse número subiu para cerca de 13%, com planos de chegar a 100% até 2030.
Esses avanços elevaram a qualidade de vida, mas também aumentaram os custos operacionais da cidade, pressionando o orçamento em tempos de royalties mais baixos.

3. Crescimento do Comércio e Serviços
Embora a mineração domine, o comércio e os serviços cresceram como pilares secundários:
- Shopping e Varejo: A abertura do Partage Shopping em 2015 foi um marco, consolidando Parauapebas como um polo comercial regional. Nos últimos anos, o setor de varejo se expandiu, atraindo consumidores de cidades vizinhas como Canaã dos Carajás e Curionópolis.
- Empreendedorismo: A circulação de dinheiro dos royalties estimulou pequenos negócios — restaurantes, oficinas e salões de beleza se multiplicaram, criando uma economia local mais dinâmica. Em 2020, serviços já respondiam por cerca de 20% do PIB municipal, um salto em relação a 2015.
Esse movimento mostra uma tentativa de reduzir a dependência mineral, mas o ritmo ainda é lento diante da escala da mineração.
4. Tentativas de Diversificação Econômica
Nos últimos 10 anos, Parauapebas começou a olhar além do minério:
- Agronegócio: A pecuária e a agricultura familiar (mandioca, milho) ganharam força, especialmente em áreas rurais. Embora pequeno, esse setor cresceu como alternativa, aproveitando terras fora da zona de mineração.
- Educação e Tecnologia: A expansão de instituições como UFPA e IFPA, com cursos voltados para mineração e outras áreas, formou uma mão de obra mais qualificada. Isso atraiu algumas empresas de tecnologia e serviços técnicos, ainda que em escala inicial.
Porém, a diversificação enfrenta barreiras: a infraestrutura rural é limitada, e o foco político muitas vezes prioriza projetos de curto prazo em vez de estratégias de longo alcance.
5. Impacto Social e Desigualdade
A riqueza gerada não se distribuiu igualmente:
- PIB Per Capita Alto, Mas Concentrado: Em 2020, o PIB per capita de Parauapebas era de cerca de R$ 140 mil, um dos maiores do Brasil, mas indicadores sociais como educação (IDEB de 4,8 em 2021) e saneamento mostram que o desenvolvimento humano não acompanhou o crescimento econômico.
- Migração e Emprego: A cidade atraiu milhares de migrantes nos últimos 10 anos, especialmente do Maranhão e do Nordeste, em busca de empregos na Vale ou no comércio. Isso gerou crescimento populacional (de 153 mil em 2010 para 267 mil em 2025), mas também pressionou serviços públicos e ampliou favelas.

6. Sustentabilidade e Pressões Ambientais
A última década também trouxe um olhar mais atento ao meio ambiente:
- Mineração vs. Floresta: A exploração na Serra dos Carajás gerou debates sobre impacto ambiental. A Vale investiu em reflorestamento e no Parque Zoobotânico, mas a tensão entre extrativismo e preservação da Floresta Nacional de Carajás cresceu.
- Compromisso Verde: Em 2025, Parauapebas aderiu ao Pacto Global de Prefeitos pelo Clima, sinalizando um esforço para alinhar crescimento econômico com sustentabilidade — uma mudança de mentalidade em relação a 2015, quando o foco era quase exclusivamente na produção mineral.
Conclusão: Um Balanço de Lucros e Desafios
Nos últimos 10 anos, Parauapebas viveu um ciclo de prosperidade puxado pela mineração, com picos de arrecadação que transformaram a cidade em um símbolo de riqueza no Norte do Brasil. A infraestrutura melhorou, o comércio floresceu, e há sinais tímidos de diversificação. Porém, a queda recente dos royalties, a desigualdade persistente e a dependência de um único setor expõem fragilidades. A próxima década será decisiva: ou Parauapebas usa sua base econômica para construir um futuro mais equilibrado, ou corre o risco de repetir o destino de cidades que esgotaram seus recursos sem planejar além deles.